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terça-feira, 26 de julho de 2011

O principal da vida

     Conta a lenda, que certa mulher pobre com uma criança no colo, passando diante de uma caverna, escutou uma voz misteriosa que lá dentro lhe dizia:
    “Entre e apanhe tudo o que você desejar, mas não se esqueça do principal. Lembre-se, porém, de uma coisa: depois que você sair a porta se fechará para sempre. Portanto, aproveite a oportunidade e não se esqueça do principal.”
    A mulher entrou na caverna e encontrou muitas riquezas. Fascinada pelo ouro e pelas joias. Pôs a criança no chão e começou a juntar, ansiosamente, tudo o que podia no seu avental.
    A voz misteriosa falou novamente: “Você só tem oito minutos.”
    Esgotados os oito minutos, a mulher, carregada de ouro e pedras preciosas, correu para fora da caverna e a porta se fechou...
    Lembrou-se, então, que a criança ficara lá e a porta estava fechada para sempre!



    A mudança pela qual passamos na vida, sob vários pontos de vista, nos faz trilhar caminhos explorando as fronteiras da opção.
    Almejamos e buscamos mudar nossa realidade, nosso pensar, buscando uma segurança que, na maioria das vezes, está ao nosso lado.
     Essa busca, em extrema situação de pobreza, leva-nos a escolher caminhos adversos à nossa moral, perdendo os valores indispensáveis para encontrarmos nossa felicidade.
     Temos nossos sonhos e objetivos que, ao procurarmos construir os alicerces da nossa vida, deixamos que a tentação nos leve à ambição e à ganância.
     A ambição faz, mesmo numa forma inconsciente, com que ganhemos bens materiais e perdas, como pessoas amadas e a essência do nosso próprio futuro.
     Questionar esse comportamento, buscar dentro de nós uma forma ética de alcançar nossos objetivos, abandonando a oportunidade de ser mais ou ter mais, nos traz o sentido da justiça, do amor e da paz.
     O convite, simbolicamente, nos leva à busca do portão que irá se abrir por um breve momento, proporcionando-nos o que queremos possuir.  Qual será o bem maior?
     A sabedoria de discernir entre o certo e o errado é a descoberta de que felicidade não se compra e que a riqueza não é medida por um punhado de ouro, e sim pela capacidade de amar o próximo, sem prejudicar a nenhum de nossos semelhantes.
     “O que torna uma resolução tão difícil é não sabermos o que queremos e o quanto queremos.”

terça-feira, 19 de julho de 2011

EU

        Conta-se que um discípulo bateu à porta de um rabino, tarde da noite. Este perguntou:- Quem é?
      O discípulo respondeu:- Sou eu.
      O rabino não abriu a porta. O discípulo voltou a bater e o rabino repetiu a pergunta. O discípulo novamente respondeu:
     - Sou eu, mestre.
     Novamente silêncio. Depois de repetidas vezes, o discípulo calou-se.
     Então, o rabino abriu a porta e fez o seguinte comentário: -
    Toda vez que você respondia usando a palavra “eu”’, não havia ninguém lá fora, só ilusão. Ninguém, além do Eterno, pode usar a palavra “eu” sem ser pura ilusão.
   
     “E D’us criou o homem à Sua própria imagem.”
     Uma vez que o Eterno não tem forma ou imagem, a Torá nos diz que fomos criados à imagem espiritual de D’us, que nos deu o dom da fala, dotando-nos do livre arbítrio, razão, moralidade e a intenção de imitá-lo.
     A imitação não nos leva a igualar nossas imperfeições à perfeição do Sagrado.
     Sem essa perfeição, o homem perante o Universo  é um ser que, na primeira tentação apresentada, transgrediu a imagem que fazia de si, tornando-se apenas uma partícula da criação Divina.
     A sabedoria da fala nos leva à consciência dos objetivos de nossas vidas, aperfeiçoando nosso caráter, tornando-nos pessoas melhores.
     Por mais que nos esforcemos nessa perfeição, temos que  reconhecer que o nosso eu jamais nos levará à comparação do  “eu” Divino, que é Sagrado e Único.

terça-feira, 12 de julho de 2011

O PAI E SEUS FILHOS

    Era uma família onde todos os filhos, brigavam entre si. Não havia bom relacionamento entre eles. O pai sofria muito com esta situação, pois, como todo pai, queria o melhor para seus filhos.
     Um dia, cansado de tanto pedir e tentar ensinar, o pai resolveu tentar de outra forma. Pegou um feixe de varetas, uma corda e chamou os filhos.
      _ Vocês estão vendo estas varetas? Vou juntá-las e amarrá-las com esta corda. Agora, você, meu filho mais velho, quebre as varetas.
     O filho mais velho tentou, mas não conseguiu.
      - Você, meu segundo filho, veja se consegue quebrar as varetas.
     O segundo filho se esforçou, mas não conseguiu.
     - É a sua vez, meu filho caçula, tente e veja se consegue.
     O filho caçula usou toda sua força, mas nem assim conseguiu.
     O pai desamarrou o feixe, e as varetas se espalharam.
     - Quebrem agora as varetas, ordenou o pai.
     Com facilidade e rindo, os filhos quebraram as varetas.
     -Agora foi fácil, não foi? Vocês, meus filhos são como estas varetas. Separados qualquer um conseguirá quebrar vocês. Juntos, amarrados pelos laços da união e da amizade, ninguém vencerá vocês...
                                                                                  
      Se nós vivermos com o senso dos valores judaicos, deixando que essa regra determine nosso estilo de vida, cumprindo com perfeição o mandamento de amor e respeito ao próximo, principalmente a nossos pais e irmãos, buscando o benefício e o bem estar de todos, estaremos nos esforçando para alcançar o crescimento espiritual e moral e com isso encontrar o sagrado inerente a cada um de nós, para num só pensamento unirmos forças e vencer todos os obstáculos que a vida nos apresenta.
       O grande Rabino Baal Shem Tov Z L construiu uma metáfora, que traduz esse conto: ”Sozinha uma letra não tem significado, mas se você junta essas letras, você cria um parágrafo”. Torá é Vida.



A CARTEIRA

    Um homem pobre achou uma carteira com mil rublos.
     No dia seguinte, quando foi à sinagoga, ouviu que o banqueiro Yossel tinha perdido uma carteira com mil rublos e prometeu uma recompensa de cinquenta rublos a quem achasse e lhe devolvesse.
     Depois do serviço, ele foi rapidamente à casa do Yossel, bateu na porta e quando este abriu, ele entregou a carteira com os 1000 rublos.
     Yossel pegou a carteira, contou o dinheiro e disse: - “Vejo que você já pegou a recompensa. Tinha mil e cinquenta rublos na carteira e agora só tem mil.”
     “Mas isso não é verdade”, protestou o pobre homem. “Só tinha 1.000 rublos aqui.        Você me deve cinquenta rublos de recompensa.” Os dois discutiram e no final concordaram em ir ao rabino para julgar o caso.
     Os dois apresentaram o caso ao rabino. O pobre homem reclamou que tinha 1.000 rublos na carteira e que Yossel lhe devia 50 rublos de recompensa por ter devolvido a carteira.
     Mas Yossel, o banqueiro, dizia que tinha 1.050 rublos na carteira e que não devia nada.
     “Rabino, o senhor precisa acreditar em mim,” acrescentou, o homem rico.
     “Certamente acredito no senhor,” respondeu o rabino. Agora, o homem rico estava cheio de sorrisos, enquanto o pobre homem estava devastado.
      Então, o rabino pegou a carteira e deu ao pobre homem. “É seu. Pode ficar com você!”
     “O que o senhor está fazendo,” protestou o homem rico, com raiva. “O senhor não acredita em mim, rabino?”
     “Certamente acredito em você. Você falou que era honesto e acredito em você.    Acredito que tivesse 1.050 rublos em sua carteira. No entanto, devo acreditar que o pobre homem aqui também seja um homem honesto, pois lhe devolveu a carteira. Se ele fosse desonesto, teria ficado com a carteira inteira com todo o dinheiro. Agora que sei que vocês dois são pessoas honestas, tenho que acreditar que a carteira em questão não é a que você perdeu e deve ser de outra pessoa. “Então, até que o dono de verdade apareça, a carteira ficará com ele.”
     “Mas e o meu dinheiro?”  perguntou o homem rico.
     “Ora, você terá somente que esperar até que alguém ache uma carteira com exatamente 1.050 rublos e lhe devolva!”
    A honestidade é um dos preceitos que nos foi ofertado por D’us. Ele nos presenteou também com o livre arbítrio. Temos a opção de sermos ou não honestos. Sabemos também que o “olho Divino” estará sempre observando e julgando nosso comportamento e atos.

    Neste conto, encontramos a diversidade de comportamentos representada pelo homem pobre e honesto e o homem rico e ganancioso. Vemo-nos diante de situações reais onde quem mais tem, em geral, procura obter mais usando artifícios condenados por nossas leis morais.

    O tirar proveito usando a mentira, o denegrir a moral do outro, o tirar vantagem de quem pouco tem são colocados em evidência e levados à frente de um rabino, para que a luz de sábio dom dê o veredicto do certo ou errado.

    Ao ouvir a história, contada na versão de cada um, usa de toda sua sabedoria, sem procurar ferir com palavras, mas usando fatos, conclui que a carteira não cabe ao homem rico, que diz possuir quantia maior que a encontrada para não cumprir com o combinado.

    O rabino diz acreditar que, não correspondendo ao valor dito, a carteira não pode ser dele, e como não tem dono, o pobre homem pode ficar com ela.

    Por tão pouco, por sua ganância, a tudo perdeu.

    Mais importante do que aquilo que alguém mostra é o que o outro enxerga.

    “Se D’us criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?”

domingo, 10 de julho de 2011

Um filho

    Três mulheres conversando ao lado de um poço. Um velho as escutava.
    A primeira mulher dizia: - Meu filho é muito forte, corre e pula.
    A segunda dizia: - O meu filho canta como os passarinhos.
    A terceira mulher nada dizia, então o velho perguntou: -Você não tem filhos?
    Ela respondeu: - Tenho, mas ele é um menino normal como todas as crianças.
   As três mulheres pegaram seus potes cheios de água e foram caminhando. No meio do caminho, elas pararam para descansar e o velho homem sentou ao lado delas.
    Logo elas viram seus filhos voltando para perto delas. O primeiro vinha correndo e pulando, o segundo vinha cantando lindas canções. O terceiro não vinha pulando nem cantando, ele correu em direção a sua mãe e pegou o pote cheio de água e levou para casa.
    Então as três mulheres perguntaram para o velho homem: - O que o senhor achou dos nossos filhos?
    E o velho homem respondeu: - Realmente, eu acabei de ver três meninos, mas vi apenas um filho.

    Seguindo Maimônides, é mais importante pensar sobre qual condutas devemos adotar para que nos tornemos seres humanos melhores, do que perder tempo com coisas que não trarão benefício para o nosso desenvolvimento pessoal. O verdadeiro valor ético e moral é aquele que preserva e respeita pai e mãe, que ama o próximo como a si mesmo, fazendo o bem a quem dele precisa.  É preciso que nossos filhos recebam bons exemplos para que possam transmitir aos seus filhos e por todas as gerações.
    Neste Yom Kipur tivemos a bênção de, junto com o Shabat e o toque do Shofar, receber um Ano especialmente sagrado. E obedecendo aos ensinamentos da Torá, pedir proteção para que nos sintamos mais fortes, sabendo nos conhecer e ao próximo. Que possamos fazer uma reflexão de nossos atos desejando liberdade, solidariedade e muito amor.




Três Eliahus num Seder

    Na véspera de Pessach, Eliahu completou seis anos e já sabia o Má Nishtaná. No Seder, seu pai lia a Hagadá e chegando à passagem “Shooh Chamatchá”, disse a seu filho:
    - Eliahu, abra a porta para Eliahu Hanavi. Eliahu abriu a porta e viu um senhor encurvado aproximando-se. Eliahu chamou-o:
    - Venha Eliahu Hanavi. Bem-vindo seja.
    O senhor respondeu:
    -Eu não sou Eliahu Hanavi, apesar de que também me chamo Eliahu.  Eu sou Eliahu, o pobre. Sou sozinho no mundo, não tenho família e  até agora não encontrei onde passar o Seder. Quem sabe seus pais  me convidam?
    Os pais ouviram a conversa dos dois e disseram:
    -Venha, visitante, passe o Seder conosco. Seja bem-vindo.
    Eliahu achou engraçado e disse:
    - Agora nós somos três Eliahus à mesa:
    Eliahu - o visitante
    Eliahu - o menino
   Eliahu Hanavi -o invisível.



    Esse pequeno conto nos lembra a proximidade de uma das maiores festividades da Tradição Judaica – o Êxodo do Egito, onde Moisés lidera seu povo, levando-o da escravidão para a liberdade.
     “Em todas as gerações cumpre-nos relatar a saída do Egito e a busca da Liberdade e discutir seu significado, a fim de assumirmos, plenamente, a nossa missão de indivíduos atuantes e responsáveis”.
Conta o Midrash que, na hora da travessia do Mar Vermelho, quando tropas egípcias se afogavam na perseguição aos hebreus, os anjos romperam em gritos de alegria, quando o Eterno mandou que se calassem ao dizer “minhas criatura se afogam no mar e vocês entoam cantos”.
     Essas palavras, transportadas para nossos dias, levam-nos a refletir e lembrar o valor e o respeito a cada vida humana.
     A leitura da Hagadá nos passa a mensagem de que se aproxima a era da justiça e da paz com a vinda do Messias. Para isso é necessário eliminar a fermentação de sentimentos nocivos, que alimentamos dentro de nós, como o orgulho, o ódio, a injustiça, a inveja, e tudo que nos prende, nos acorrenta, nos deixa “escravos”. É importante questionarmos o sentido da vida para que tenhamos, plenamente, a consciência da liberdade na qual vivemos, assumindo a responsabilidade que cada um tem pelo seu semelhante.

A noz dourada

    Aconteceu em véspera de Pessach.
    Todos vestiam roupas e sapatos novos, menos dois irmãos: Gadi e Tali. Eles estavam tristes por não terem uma roupa nova, pois o pai era muito pobre e a mãe encontrava-se adoentada.
     De repente apareceu um senhor de barba branca, rosto brilhando de bondade, e perguntou: - Por que vocês estão escondidos num canto?
    -Como podemos aparecer, se nossas roupas são velhas, nossos sapatos furados e nem mesmo temos nozes?
     O senhor olhou penalizado para as crianças, tirou do bolso uma noz e deu a eles:- Olhem o que achei no bolso. Peguem e brinquem. Eu não quero ver ninguém triste. E se foi.
     Os meninos olharam assombrados para a noz que era de ouro. Muito alegres passavam de mão em mão até que a noz caiu no chão e começou a rolar e ir para bem longe. Os meninos correram atrás dela até chegar a uma casinha. Bateram à porta e, como não havia ninguém, entraram. Na sala havia uma mesa cheia de roupas.   As crianças vestiram as roupas e muito alegres pegaram um cartão e escreveram: muito obrigado!
     Estava na hora de voltar e eles perceberam que tinham esquecido o caminho. Nesse momento a noz caiu no chão e começou a rolar levando os meninos de volta para casa.
     Chegaram, abraçaram seus pais que lhes perguntaram: - Onde vocês estiveram? Onde arrumaram roupas tão lindas?
     Gadi e Tali contaram sobre o simpático senhor, sobre a noz e os presentes.
     Os pais sorriram e disseram:- Só pode ter sido Eliahu Hanavi
    No decorrer das dez pragas, o Eterno revelou seu controle absoluto, mudando o curso das leis da Natureza atingindo as esferas de sua Criação - a Terra, a Atmosfera e os Céus.
     Através e apesar delas o homem aprendeu que sua sobrevivência depende do meio no qual vive, preservando, cultivando e respeitando os ciclos naturais do Universo.
     Celebrando Pessach, transponho-me e realizo um paralelo dos tempos marcantes de Moshé para os atuais c  om o surgimento de um novo olhar, mostrando-nos que não só o Homem como a Natureza sofreram e sofrem a ação divina com o derramar do sangue de milhões e milhões que morrem através de guerras e conflitos. O SER HUMANO ESQUECEU DE AMAR O PRÓXIMO.
    A corrupção, a maldade e a inveja criam energias negativas que se voltam contra o próprio criador.
    É importante que, ao lermos a Hagadá, nos responsabilizemos por todos os nossos atos manifestando uma ligação eterna com D’us, seguindo o caminho da bondade e da justiça, harmonizando nossas energias por um bem maior, canalizando bênçãos para que tanto nós como a Natureza convivamos em Paz para a preservação de todos

Pessach- Expressão máxima da liberdade

     Os seres humanos nasceram para serem livres, significando que somos responsáveis pelo que fazemos ou deixamos de fazer.

    Pela primeira vez na História da Humanidade, assinalado pelo nascimento do povo de Israel , culminado pelo Êxodo de nosso povo do Egito, foi legitimado o sentimento de LIBERDADE e a conquista e observância dos “Direitos Humanos”

    Pessach tem o significado de reflexão, levando-nos a questionar todos os atos de nossa existência e, durante seu festejo, devemos nos imbuir que não estamos no limiar da chegada, que passamos por uma travessia, lembrando sempre nossos irmãos que, sob o comando de Moshé, transformaram-nos de escravos em Homens Livres.

    Em nome dessa tão almejada Liberdade não podemos esquecer o legado de deveres que devem nortear nossos dias.

    A soberba, a imposição, a falta de respeito às diferenças, o julgamento pré-concebido, o autoritarismo, a falta de amor ao próximo e a imposição do poder econômico e político, devem ser combatidos nos livrando de uma escravidão individual ou coletiva.

    A liberdade de expressão é a força maior para que sintamos, realmente, o sentido da Liberdade e, desta forma, junto com nossas famílias e toda a Humanidade, brindemos.

terça-feira, 5 de julho de 2011

O RABINO

     Conta-se que certa vez um rabino juntou-se a um grupo que admirava os feitos de um equilibrista circense. Os discípulos admiraram-se ao vê-lo em situação tão mundana e o questionaram. O rabino, então, perguntou:
     ‘Vocês sabem como ele consegue?’ - e sem esperar resposta, continuou:
     ‘ Regra número um: em nenhum momento desviar sua atenção para o chapéu no qual lhe depositam dinheiro em reconhecimento. Se perder a concentração no que está fazendo, cai imediatamente. Regra número dois: não prestar atenção no próximo passo, mas mirar em direção ao mastro no final da corda. O objetivo é que permite o equilíbrio e oferece estabilidade para o próximo passo. Mas qual é o momento mais difícil e mais importante de sua tarefa?’
     Os discípulos se entreolharam confusos. Ele respondeu: ‘É o momento em que chega ao final da corda e tem que dar meia volta. Nesse momento, ele fica sem o mastro como referência. Aí, ele depende de um centro que ficou interiorizado nele.”

    Os conselhos práticos para a vida cotidiana trazem a sabedoria popular de nossa cultura. São receitas sobre a conduta humana de como viver ou morrer, tendo como ponto máximo as consequências desta fé.
   É necessário ter objetivos para encontrar o caminho para a sabedoria, que floresce e amadurece somente com o tempo.
 Uma percepção balanceada das consequências passíveis de decisões e ações faz com que se desenvolva o senso da confiança.
     Quando resolvemos tomar decisões, devemos nos focar em atingir a finalidade proposta contando com uma referência palpável eliminando a sensação do medo, da perda e da derrota.
     Segundo Baal Shem Tov: “Nas coisas mundanas não pode haver medo quando existe alegria e também não pode haver alegria quando existe medo. No que diz ao Sagrado, no entanto, onde há temor sempre se encontrará júbilo e vice-versa.”
     A fé em D’us é a certeza de ter sempre no que se segurar lá em cima.
     “Creio no sol, inclusive quando não brilha.
      Creio no amor, ainda que nem sempre o sinta.
      Creio em D’us, ainda que também Ele esteja em silêncio.”

O PODER DA LÍNGUA



    Certa vez, um homem tanto falou que seu vizinho era ladrão, que o vizinho acabou sendo preso. Algum tempo depois, descobriram que o rapaz era inocente, ele foi solto e, após muita humilhação, resolveu processar seu vizinho (o caluniador).
     No tribunal, o caluniador disse ao juiz:
     - Comentários não causam tanto mal.
    E o juiz respondeu:
     - Escreva os comentários que você fez sobre ele nesse papel, depois pique o papel e jogue os pedaços pelo caminho de casa e amanhã volte para ouvir a sentença!
     O homem obedeceu e voltou no dia seguinte, quando o juiz disse:
     - Antes da sentença, terá que catar os pedaços de papel que espalhou ontem!
     - Não posso fazer isso, meritíssimo! – respondeu o homem – o vento deve tê-los espalhado por tudo quanto é lugar e já não sei onde estão!
 Ao que o juiz respondeu:
      - Da mesma maneira, um simples comentário que pode destruir a honra de um homem, espalha-se a ponto de não podermos consertar o mal causado; se não se pode falar bem de uma pessoa, é melhor que não se diga nada!


     Diz o Talmude: “Quem faz uma injúria e a repete, começa a crer ser isto permitido.”
     A sabedoria popular faz com que nosso pensamento acabe derrubando os preconceitos e as contradições das verdades de cada um.
     Encontramos no ser humano pensamentos, éticos ou não, que nos fazem chegar a um dos mandamentos Divinos: “Não levantarás falso testemunho.”
    Os contos didáticos nos trazem esses ensinamentos através das parábolas e nos chegam aos questionamentos de regras morais do pensamento judaico.
    A própria essência de toda a ética, a escolha entre o bem e o mal, o certo e o errado são inerentes a cada um de nós.
    Mentir é contra os padrões morais e dentro de nossa cultura é considerado como um “pecado”. O nosso código ético especifica que a mentira deve ser combatida quando a criança adquire as primeiras noções evitando  que em adulto se torne prejudicial a si e à humanidade..
   Tais atitudes chegam à injúria, atingindo a dignidade e o decoro do outro.
   Há um sentimento que fere a personalidade: “Não julgue nada, nem ninguém, pela aparência.”
   "Sejamos senhores de nossa língua, para não sermos escravos de nossas palavras."

domingo, 3 de julho de 2011

O BARQUEIRO

   
   
   Durante uma inundação, um barqueiro estava ajudando um sábio a atravessar o rio. O tsadik  (homem santo) percebeu que o pobre homem era muito ignorante e quis ajudá-lo a seu modo.
      - Meu filho, você estuda os livros sagrados?
      -Sou barqueiro e lenhador, meus filhos têm  que comer, não tenho tempo de estudar, rabino.
       - Ai de ti - lamentou o rabino. -Um judeu que não estuda perde a quarta parte da sua vida.  Mas diga-me, pelo menos você recita os Salmos?
        - Rebe, não posso, tenho muita lenha para carregar.
        -Ai de ti. Um judeu que não recita os Salmos desperdiça uma quarta parte da sua vida. Mas suponho que fazes as tuas orações como se deve.
        -Rabino, faço o que posso, minha casinha inundou e o rio levou o meu manto e o meu livro de orações.
        -Ai de ti: assim você gastou outra quarta parte da sua vida.
        Nesse momento o bote bateu em uma pedra e começou a fazer água.
        -Rabino - disse o homem - o senhor sabe nadar?
        -Nãooooo! - gritou o rabino que já estava afundando.
        -Então, desperdiçaste os quatro quartos da sua vida. Mas, se o senhor segurar firme em mim,  talvez eu possa levá-lo até a margem com o quarto  de vida que me resta.
                                                                      


         Como humor judaico, este conto trata com irreverência a sabedoria rabínica e a simplicidade do homem comum na labuta do seu dia-a-dia.      
        "Não há possibilidade de discutir com os que pretendem possuir um conhecimento divino de uma missão divina. Estão possuídos pelo pecado  do orgulho, cederam à tentação externa."
         O "- Ai de ti." - mostra a soberba de nem ao menos tentar entender o outro em suas limitações e dificuldades.
         Usando dois personagens de culturas opostas, de uma forma cômica, aproxima nossos pensamentos de um contexto sociocultural fora dos nossos padrões, fazendo-nos questionar no até que ponto as obrigações religiosas quando se tornam obrigações religiosas, quando se tornam impossíveis de realizar, desviam-nos do caminho Divino. As boas ações diárias nos fazem, ou não, ter uma vida digna?
          Dentro dos preceitos da religião, não é só o saber dos Livros Sagrados que nos liga ao Divino,  mas as atitudes e ações que fazemos durante toda nossa vida.


JOGO DE DAMAS

         Num dos dias de Chanukah, o rabi Nahum, filho do rabino de Rizhin, entrou na Sinagoga e encontrou os seus alunos a jogar Damas, como era de costume naquele tempo. Quando viram o rabino, envergonharam-se e pararam de jogar, Mas, o rabi Nahum sorriu e pediu-lhes que prosseguissem. “Sabem que as regras do jogo de Damas são muito parecidas às regras da vida? Pois reparem: a primeira é que não se podem fazer duas jogadas ao mesmo tempo. A segunda diz que apenas se pode andar para frente, e nunca para trás. E por fim, quando se chega à última casa, alcança-se o dom de poder finalmente andar em qualquer direção.”
        A palavra Chanukah significa “dedicação” ou “inauguração”
    

     Neste conto temos, dentro da nossa cultura judaica, o significado amplo, revelando um mundo extremamente complexo possibilitando formas e possibilidades de modificar nossos pensamentos e decisões, buscando nas entrelinhas verdades que nos fazem conhecer melhor o meio em que vivemos e a realidade que produz resultados.
      Trazendo as palavras para um mundo significante sentimos que as regras da vida permitem que “inauguremos” novas interpretações entre o pensar e o fazer, e que a cada atitude, a resposta nos será revelada de acordo com os valores de cada um.
       É fundamental saber utilizar os instrumentos que penetram nesta dimensão, nos levando a discernir que é necessário caminharmos sempre para frente, observando o ensinamento que a Torá nos transmite e que nos diz respeito a encontrar sentido. E este sentido nos levará a sabedoria, a paz, percebendo o caminho que nos conduzirá a compreender o verdadeiro respeito à vida e para onde nossas atitudes nos conduzirão.
        As luzes da Chanukiah simbolizam, que a Torá com sua mensagem de bondade, justiça e devoção a D’us, sempre prevalecerão sobre a escuridão. A Torá nos ensina que:
        “A ALMA DO HOMEM É A LÂMPADA DE D’US”.


A RAPOSA E A VINHA


     O Rei Salomão, o mais sábio de todos os homens, lembra-nos de ser muito humildes, pois um homem vem a este mundo sem nada, e assim o deixará, sem riquezas.
      Nossos sábios nos contam a seguinte parábola, para que estas palavras de Salomão permaneçam frescas em nossa memória:
       Uma astuta raposa passava por um lindo vinhedo. Uma cerca alta e espessa cercava a vinha por todos os lados. Ao circular ao redor da cerca, a raposa encontrou um buraquinho, suficiente apenas para que ela passasse a cabeça por ele. A raposa podia ver as uvas suculentas que cresciam na vinha, e sua boca começou a salivar. Mas o buraco era muito pequeno para ela.
        O que fez a esperta raposa? Jejuou por três dias, até tornar-se tão magra que conseguiu passar pelo vão.
        No vinhedo, a raposa começou a comer à vontade. Ficou maior e mais gorda que antes. Até que quis sair da plantação. Ai dela! O buraco estava pequeno demais novamente. O que poderia fazer? Jejuou então três dias, até que conseguiu espremer-se pelo buraco e passar para fora outra vez.
         Voltando-se para olhar a vinha, a pobre raposa disse: “Vinha, ó vinha! Como pareces adorável, e como são deliciosas tuas frutas. Mas que bem me fizeste? Assim como a ti cheguei, assim eu te deixo...”
         E assim, dizem nossos sábios, também acontece com este mundo. É maravilhoso, mas da mesma forma que um homem chega neste mundo com as mãos vazias, assim os deixa. Apenas a Torá que estudou, as mitsvot que cumpriu e as boas ações que praticou são os verdadeiros frutos que poderá levar com ele.


       A vida constantemente nos põe à prova diante de situações de causa e efeito fazendo com que sintamos dificuldade em estabelecer uma relação entre o desejo e a limitação de nossa estrutura, a percepção entre o bem e o mal, o certo e o errado, tornando as decisões extremamente duvidosas e convidativas para cometermos erros, que trarão consequências no nosso julgamento futuro. A tentação é na maioria das vezes a expressão do desejo.
     Nesta metáfora, encontramos a raposa sucumbindo ao desejo da posse do ”outro”, não medindo conseqüência para alcançá-lo.
      É comum nos depararmos, na vida real, com situações similares, onde as fronteiras do possível que estão em nossa mente rompem-se não deixando que percebamos e reflitamos sobre nossos atos presentes.
      A “Ética dos Ancestrais”, com toda sua sabedoria nos diz:
     “Os que nascem estão destinados a morrer, a ser vivificados... Não penses que tua sepultura é teu refúgio, pois sem o teu consentimento foste formado, sem o teu consentimento foste feito viver, sem o teu consentimento foste feito morrer e sem teu consentimento te será exigido prestar contas.”

O AGRICULTOR E O PESCADOR



    - Que faz você sentado aí, pescador?
    - Consertando a rede. O mar está calmo e eu quero ir pescar. Ninguém sabe quanto tempo o mar ficará calmo. E se vier uma tempestade?
    - Por que você escolheu uma profissão tão perigosa?
    - É que meu pai, meu avô, meu bisavô, todos foram pescadores.
    - E qual foi o fim deles?
    - Morreram no mar
    -Você  não tem medo de ir para o mar? Onde é a sepultura deles?
    - Nas águas do mar. E você, agricultor, qual foi o fim dos seus antepassados?
    - Meus antepassados morreram de velhice em suas camas.
    - E você não tem medo de dormir na sua cama?



    Neste conto lidamos com tradições que são passadas de geração em geração e respeitadas e assimiladas no seu contexto mais puro – a humildade.
     Segundo Bem Azai dizia: ”Não desprezes qualquer homem e não rejeites qualquer coisa, pois não há homem que não tenha sua hora, e não há coisa que não tenha seu lugar.”
     A humildade é um pré-requisito para receber a Torá. O Código da Lei Judaica declara “Não se sinta constrangido pela zombaria ou pelo ridículo. Para se receber a Torá você deve ser baixo, porém para mantê-la você precisa ser uma montanha.”
      A função da consciência e do saber é não compactuar com o óbvio. O vazio das respostas estabelece condições de comportamento que não podem ser padronizadas. Uma de nossas características é responder uma pergunta com outra pergunta dando margem a interpretações. O pré- conceito faz com que não nos enquadremos em afirmações que não são estabelecidas pelo comportamento rotineiro.
       É necessário rompermos com padrões de atitudes e elaborarmos um pensamento mais positivo, onde cada um tenha seu modo de pensar e agir, sendo esta a sua verdade.