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terça-feira, 23 de agosto de 2011

O CHORO

     Uma menina começou a chorar sem explicação. No início, seus pais não deram muita atenção, mas passaram-se horas e até um dia inteiro sem que ela parasse de chorar. Um médico foi chamado e não conseguiu acalmá-la.

     Temendo por sua saúde, os pais apelaram para um rabino. O rabino foi trazido até o local onde estava a menina, aproximando-se dela, delicadamente sussurrou algo em seu ouvido. A partir dali o choro da menina foi cedendo; ela soluçava de forma cada vez mais espaçada até que finalmente parou de chorar.

     Passaram-se muitos anos sem que ninguém soubesse o que o rabino havia sussurrado ao pé do ouvido da menina. Foi só em seu leito de morte que ela revelou as palavras ditas pelo rabino naquela ocasião. E foi o que ele lhe disse: “Chora, pode chorar. Mas chore apenas o que lhe dói, nem mais nem menos, apenas o quanto dói.”


      Poucas vezes tomamos consciência que todos os fatos na vida são passageiros e que os momentos devem ser vividos e sentidos na hora imediata que ocorre.
      Neste conto, vemos o sentimento de tristeza se instalar numa busca em nossa memória afetiva de todos os maus acontecidos, aumentando a intensidade desenfreada do antes, do agora e talvez do depois.
      A tristeza, em si, pode ser um momento de reflexão resultante de algum tipo de emoção do atual momento de nossa vida. Deixar brotar este sentimento, vivê-lo profundamente sem sublimá-lo e, então, esgotar toda capacidade de concentrar o que nos machuca, através do choro, alivia a ansiedade e a angústia.
      A natureza humana preserva pensamentos ou reflexões de felicidade ou tristeza, fazendo um paradoxo entre elas, associando estímulo emotivo que já temos guardado gerando reações como o riso exagerado ou o choro compulsivo. Acumular tristezas é um passo para a depressão, então, o choro no momento certo é a maneira mais límpida de revelarmos nosso interior.
      Na verdade, nada nos é dado sem que tenhamos força para suportar e, que cada momento vivido é um ato de fé no Criador, que não exige a perda de nossa integridade.
 No Talmude há um dito que expressa esse sentimento: “Não se decretam leis ou éditos que não possam ser cumpridos.”

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