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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

APERTADO E BARULHENTO

      Um homem muito pobre vai até o rabino pedir um conselho e relata que não aguenta mais as condições na qual sua família vive. Com dez filhos, morando em um pequeno casebre composto de um único cômodo, o homem fala de seu desespero ao ter crianças por todo lado e viver sem nenhum espaço. . O rabino ouve silenciosamente todas as mazelas do homem e, então, pergunta:
     - “Acaso vocês possuem um vaca?”
     - “Vaca?”, perguntou o homem, não compreendendo a conexão. - “Sim, dispomos de uma vaca leiteira que nos supre de leite e derivados!”
     “Muito bem. Isso é o que você vai fazer...”, disse o rabino resoluto. - “Pegue a vaca e coloque-a para dentro da casa. Faça isso pelo período de uma semana e, então, retorne.”
      Incrédulo, o homem obedeceu. Passada a semana, ele retornou ainda mais desesperado.
      O rabino perguntou:
     -  “Como está tudo?
     -”Tudo que me faltava era aquela vaca fazendo necessidades na casa e ocupando o pouco espaço que tanto disputávamos.”
     - “Muito bem. Pois tire a vaca de agora em diante e retorne em uma semana.” -disse o rabino, em tom sábio.
 Finda a semana, o homem aparece com ar irreconhecível. Estava descansado e eufórico. O rabino perguntou:  
     - “Como anda tudo?”
     - “Nunca esteve tão bem. Desde o dia em que aquela vaca saiu de nossa casa a vida mudou. Temos lugar para todos e descobrimos quão espaçosa é nossa casa!”



     Este conto nos mostra o quanto é difícil aceitar as adversidades que a vida nos apresenta.
     Ao buscarmos na ilusão dos sentidos uma realidade que criamos como nossa, deformamos a interpretação de atos e atitudes, confundindo o que somos com o que desejamos.
     Almejando o que não está ao nosso alcance, ambicionando o que não conquistamos, perdemos a conexão com o que construímos com nosso esforço e que por direito nos pertence. Deixamos que a percepção do “bem maior” se transforme no desespero do “não ter.”
     Na resolução dos problemas e nas situações que vivemos, nem sempre encontramos solução. A resposta é tão óbvia, que não a percebemos sem uma sábia ajuda.
     Colocando mais um problema na vida do homem e retirando-o após algum tempo, temos a sensação que a solução era tão simples que, à dificuldade, dávamos uma falsa dimensão. Precisamos de algo externo para dar valor ao que temos, reconhecendo que recebemos tudo o que necessitamos e que é necessário olhar à nossa volta e agradecer cada bem recebido, as muitas coisas que nos fazem ter motivo de viver. O resto não passa de pura ilusão.
      “As ilusões enlouquecem os homens.”

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