Páginas

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Os figosPor Elenise Benjó



Num reino distante, o rei possuía uma plantação de figos especiais e incumbiu dois deficientes, um que era cego e outro que era aleijado, para tomar conta da plantação. Depois de algum tempo, o rei avisou que já havia figos maduros. O cego disse ao aleijado: “Leve-me até os figos porque não posso ver!” O aleijado retrucou ao cego: “Mas eu também não posso ir porque não posso andar!” Então o aleijado subiu nos ombros do cego e eles comeram dos figos.

Passado um tempo, o rei cobrou: ”Onde estão os figos? O cego disse: “E como vou saber? Eu sou cego!”. O aleijado também se desculpou: “E eu, como vou saber? Eu sou aleijado!”. O rei, porém, era esperto; carregou o aleijado, colocou-o sobre os ombros do cego e disse: “Foi assim que comeram os figos!”

A sabedoria popular judaica inclui conselhos que, se observados, farão com que a distância da intenção em relação à conduta nos manterá longe das tentações da vida, tendo a noção exata do certo e do errado numa dimensão mais próxima da realidade. É nesse processo evolutivo que tomamos consciência de que não somos apenas corpo que nos serve de vestimenta para a alma. É na transparência da alma que temos a dimensão da lucidez nos tornando só UM.
“Onde quer que nossos pensamentos estejam, é lá que estamos”.
As metáforas apresentadas neste conto tentam reproduzir a relação entre o corpo e a alma. O corpo mutilado sem pernas para alcançar e olhos para ver encontrará na alma a transparência, a essência da existência, onde reside o bem e o mal. Neste duelo estará o Divino para julgar atos dissimulados e cometidos, fazendo com que nos percamos de nós mesmos.
“Uma consciência culpada não necessita de nenhum acusador”. (Talmude)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Conto Judaico

     Conta-se que em certa região da Europa já não chovia há meses. Os agricultores estavam desesperados. Como é de costume na tradição judaica em períodos de seca, institui-se um dia de jejuns e orações. Desde tempos bíblicos, o jejum está associado à contrição e à concentração, ingredientes tidos como fundamentais para orações e rituais petitivos.

     A dita cidade resolveu decretar um dia de orações e jejum para pedir chuva. Todos ocorreram à sinagoga, mas o rabino não apareceu.

     Resolveram procurá-lo em sua casa e, para surpresa geral, ele estava tranquilamente almoçando.

     Perguntaram:
‘”Desculpe-nos pela intromissão, ilustríssimo rabino, mas acaso o senhor não sabe que hoje foi decretado um jejum?”

     O rabino, sem se abalar, respondeu:

     - “Jejum? Por quê?”, - reagiu, ironicamente.

     - Porque estamos atravessando uma seca muito intensa. Por isso estamos nos congregando na sinagoga com muita fé à espera de milagres.

     O rabino foi, então, até a janela e, observando a multidão que ocorria à sinagoga, disse:

     -Fé? Então todos estão rezando por chuva, mas não há um único indivíduo carregando um guarda-chuva.



     O judaísmo não é simplesmente uma questão de fé, também é um modo de vida condicionado à fé.

     Dentre os textos judaicos populares temos argumentos contraditórios abordando tanto a fé quanto a dúvida.

     A intenção da fé, muitas vezes, mantém uma distância em relação à conduta, aceitando que milagres sejam possíveis, mas desconfiando deles. Muitas vezes o milagre parece acontecer mais pela vontade e pelo esforço, lembrando os dizeres do Talmude “ESPERE O MILAGRE COM FÉ, PORÉM AJA COMO SE ELE FOSSE IMPOSSÍVEL”. Contradizendo dessa forma as palavras de um mestre chassídico que, em sua sabedoria, legou a nossa cultura os dizeres “UM HOMEM DEVERIA ACREDITAR EM DEUS PELA SUA FÉ E NÃO PORQUE VÊ MILAGRES”.

     O imaginário é o lugar onde habitamos e a escolha cabe a nós, dependendo de nossas intenções encontraremos o verdadeiro caminho para o que acreditarmos.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

CONTO CHASSÍDICO

O rabi Chaim de Zans perguntou a um transeunte qualquer:
 -Se encontrares uma bolsa cheia de dinheiro, a devolverias a seu dono?
 - É claro! – disse o homem. – Eu a devolveria no mesmo instante!
 - És um bobo – disse o rabi
 Parou outro homem e fez a mesma pergunta.
 -Não devolveria nada. Não sou tão louco – disse este.
 - És uma má pessoa – disse o rabi.
 Então chamou um terceiro homem.
 - Rabi, como poderei saber em que situação estarei quando isso me acontecer? Talvez não possa, neste momento, resistir à inclinação ao mal e me apodere do que não é meu. Porém, também pode ser que D’us, bendito seja, me ajude a lutar contra ela e, neste caso, procuraria o dono.
 -Apenas tu és sábio – disse o rabi Chaim de Zans


     Ser sábio é quem sabe respeitar a moral e os costumes, sendo humilde, gentil e tratando o outro como gostaria de ser tratado.

     É uma questão de equilíbrio, sendo necessário viver, comungar com as coisas mundanas sem esquecer suas obrigações; é ter alegria de viver e nelas incorporar regras de ética e moral.

     De onde vem a sabedoria? Onde está o lugar do entendimento? D’us entende seu caminho e sabe seu lugar.

     Salomão, o Grande Sábio, nos leva ao questionamento da sabedoria, onde coloca que ela nos conduzirá ao correto e carecendo dela, tenderemos para o pecado, de acordo com o modo que vivemos. Interpretando suas palavras, temos a linguagem figurada de um machado que, não sendo agudo, necessitará de mais força para que se corte algo e, metaforicamente falando, a sabedoria de D’us sempre será aguda e nunca perderá o corte.

      Reconhecendo que as ações são reflexos das situações e que só passando por elas teremos o conhecimento de nossas atitudes, sábias ou não, diz um ditado judaico: “NÃO CHAME DE HONESTO UM HOMEM QUE NUNCA TEVE A OPORTUNIDADE DE ROUBAR.”

      “O caminho para a sabedoria é uma forma de ética.”

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

DESAFIOS

          Certo rabino era adorado por sua comunidade; todos ficavam encantados com o que dizia.
          Menos Isaac, que não perdia uma chance de contradizer as interpretações do rabino e apontar falhas em seus ensinamentos. Os outros ficavam revoltados com Isaac, mas não podiam fazer nada.
          Um dia, Isaac morreu. Durante o enterro, a comunidade notou que o rabino estava profundamente triste.
          - Por que tanta tristeza? – comentou alguém. – Ele vivia colocando defeito em tudo o que o senhor dizia.
          - Não lamento por meu amigo que hoje está no céu – respondeu o rabino. – Lamento por mim mesmo. Enquanto todos me reverenciam, ele me desafiava, e eu era obrigado a melhorar. Agora que ele se foi, tenho medo de parar de crescer.
           “A verdadeira sabedoria é aquela que permite a discussão e a dúvida.”


          Somos constantemente testados e provados para o que queremos perguntar, sabendo que perguntas e respostas se contradizem e se opõem mutuamente necessitando discernir sua origem e finalidade.
          O objetivo deste conto é nos fazer refletir sobre os desafios dos “porquês”.
          Na relação professor x aluno, este questionamento deve estar sempre presente. O bom professor é aquele que não se preocupa em ser questionado, gosta de desafios e aprende com seus alunos
          Existem, em toda a verdade, opiniões admitidas como válidas e que aparentemente têm sentido - são os paradoxos.
          Toda pergunta/resposta depende das verdades de quem as tem, as diz e as ouve. Todo questionamento leva ao pensamento crítico e lógico da inteligência, ao desafio da capacidade de cada um elaborar seus pensamentos. Uma indagação leva sempre a outras, adicionando e contribuindo para o desenvolvimento dos padrões do nosso saber.
          No judaísmo a pergunta é mais valorizada que a resposta.
          “O essencial não é encontrar a verdade, e sim pesquisar e procurá-la.”