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terça-feira, 28 de junho de 2011

Um velho pedreiro, que construía casas, estava pronto para se aposentar. Ele informou ao seu chefe que, mesmo sentindo falta do salário, queria se aposentar para passar mais tempo com sua família.
A empresa não seria muito afetada pela saída do pedreiro, mas o chefe estava triste ao ver um bom funcionário partindo e, como último pedido, deu-lhe mais um projeto, como um favor. O pedreiro não gostou, mas, acabou concordando.
Não muito satisfeito em realizar a tarefa pedida, prosseguiu o trabalho de segunda qualidade e usando materiais inadequados.
Quando o pedreiro acabou, o chefe veio fazer a inspeção da casa construída. Depois de inspecioná-la, deu a chave da casa ao pedreiro e disse:
- Esta é a sua casa. Ela é o meu presente para você.
O pedreiro ficou muito surpreso. Que pena! Se ele soubesse que estava construindo sua própria casa, teria feito tudo diferente.

Aprender a ver além do visível é aprender a capacitar-se a crescer interiormente, aprofundando-se na busca da certeza que é o caminho do sucesso. O que fazemos, de certo ou errado, retornará nas nossas conquistas ou nas nossas derrotas. Derrota da nossa ética, da luz que ilumina nossa conduta e nossa paz.
Nós nascemos com o dom de saber, produzir e criar. Fomos criados para colher o que plantamos, para sermos responsáveis pelo que cativamos.
No pensamento judaico o homem é inteiramente responsável pelos seus atos.
 “Não amargues o dia de hoje com a desgraça de amanhã.”
 “As circunstâncias estão fora do domínio do homem. Porém, a forma de se comportar perante elas está em suas mãos.”
 A melhor recompensa de fazer “bem’ é colher na mesma medida o que se plantou.
 “A vida é um projeto que você mesmo constrói.”

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Os anjos ciumentos de Moisés


     Quando Moisés, por ordem do Senhor, subiu ao Céu para buscar a lei, os anjos se rebelaram.
     - O homem é malvado, mentiroso, pecador – diziam os anjos. – A Torá deve permanecer conosco, no Paraíso.
     Porém, Moisés lhes respondeu assim:
     - Anjos do Paraíso, a Torá diz: “Eu, o Senhor, os tirei das terras do Egito.” Vocês estiveram no Egito? Por acaso foram escravos do Faraó? A Torá diz: “Não terão outros deuses além de Mim?” Por acaso vocês vivem entre pagãos de forma a servir outros deuses? A Torá diz: ”Guardarão o sábado.” Por acaso vocês trabalham para que os mandem descansar? A Torá diz: “Honrarás teu pai e tua mãe.” Os anjos têm pai e mãe? Percebem como a Torá não lhes serviria para nada?
      Então os anjos compreenderam e cada um deles ensinou algo a Moisés, inclusive o Anjo da Morte.
     (Recompilação medieval de um conto judaico)



    Shavuot comemora o aniversário da entrega da Torá repleta de regras e restrições. A Torá norteia  nossas vidas buscando uma leitura de nossas atitudes, ampliando nosso conhecimento do mundo que vivemos oferecendo sentido e direção,  percebendo-o como um chão de paz e certeza.
     Shavuot também celebra a Festa das Semanas, a época da colheita, mostrando-nos que para tudo existe o momento certo: o tempo de plantar e o de colher – colhemos o que plantamos. Festejamos para comemorar os frutos de uma boa colheita.

    A espera é intensificada nesta difícil relação com o tempo e a celebração do encontro de saber que D’us está presente em cada uma de nossas vidas

O MONTE TÍMIDO

   

      As montanhas souberam que Moshé ia procurar uma montanha para subir e trazer os Dez Mandamentos.        Começaram, então, a discutir entre si, cada uma tentando ser melhor que a outra. Uma dizia:

    - Eu sou a melhor. Eu tenho muitas árvores.

    -Melhor sou eu, que tenho muitos rios. Sem água os homens não vivem.

    -Eu sou a mais alta, por isso sou melhor - dizia outra.

    A pouca distância dali um monte ouvia calado. Ele não concordava. Por que tinham elas tanta necessidade de aparecer, de serem as melhores. Há tantas coisas mais importantes na vida!

    Sentindo Moshé o pensamento desse monte, resolveu escolhê-lo. Este sim deveria servir de fundo para um dos fatos mais importantes da História do homem: o momento em que ex-escravos começaram a aprender o sentido real da liberdade, em relação a si próprios e em relação com os outros. 
 

    Em Shavuot, o homem recebeu o Presente que iria nortear o seu caminhar conduzindo-o no respeito ao próximo, na observância dos costumes e no cumprimento de regras.
     Necessário tornou-se o vagar por quarenta anos no deserto para nosso povo amadurecer como “povo” tornando-se digno de entrar na terra prometida, na terra do mel e do leite - ISRAEL.
     Neste conto, vemos a humildade como símbolo de sabedoria, vencendo o orgulho e mostrando que ninguém é superior ao outro. Que pessoas humildes têm o dom de procurar e ultrapassar com perseverança suas próprias barreiras sociais e econômicas, buscando novos caminhos e integrando-se à sociedade.
     O homem que está orgulhoso de sua inteligência nega o esforço para ser melhor. O humilde procurará meios de ter uma constante e intensa consciência de si mesmo.
     O povo de Israel, ao receber a Torah, teve a humildade de não questionar os preceitos que continham nela.    
    Conta-se para as crianças uma história singela a respeito de como outros povos, ao lhes serem oferecida a Torah, questionavam sempre a sua aceitação.
     Fomos o único povo a aceitá-la sem restrições e questionamentos ”naasse venishma”
    “A humildade conserva a sabedoria.” (Talmud)
    “O significado de Shavuot é o momento em que nos foi entregue a nossa Torah e não o momento em que a recebemos. A Torah foi igual para toda Israel, enquanto a recepção da Torah não é igual para cada homem de Israel. Cada um recebe a Torah  de acordo com seu próprio mérito e entendimento”. (Menachem Mendel de Kotsk - mestre chassídico polonês)

Três Eliahus num Seder

    Na véspera de Pessach, Eliahu completou seis anos e já sabia o Má Nishtaná. No Seder, seu pai lia a Hagadá e chegando à passagem “Shooh Chamatchá”, disse a seu filho:
    - Eliahu, abra a porta para Eliahu Hanavi. Eliahu abriu a porta e viu um senhor encurvado aproximando-se. Eliahu chamou-o:
    - Venha Eliahu Hanavi. Bem-vindo seja.

    O senhor respondeu:
    -Eu não sou Eliahu Hanavi, apesar de que também me chamo Eliahu.  Eu sou Eliahu, o pobre. Sou sozinho no mundo, não tenho família e  até agora não encontrei onde passar o Seder. Quem sabe seus pais  me convidam?

    Os pais ouviram a conversa dos dois e disseram:

    -Venha, visitante, passe o Seder conosco. Seja bem-vindo.

    Eliahu achou engraçado e disse:
    - Agora nós somos três Eliahus à mesa:
    Eliahu - o visitante
    Eliahu - o menino
    Eliahu Hanavi -o invisível.




Esse pequeno conto nos lembra a proximidade de uma das maiores festividades da Tradição Judaica – o Êxodo do Egito, onde Moisés lidera seu povo, levando-o da escravidão para a liberdade.
 “Em todas as gerações cumpre-nos relatar a saída do Egito e a busca da Liberdade e discutir seu significado, a fim de assumirmos, plenamente, a nossa missão de indivíduos atuantes e responsáveis”.
Conta o Midrash que, na hora da travessia do Mar Vermelho, quando tropas egípcias se afogavam na perseguição aos hebreus, os anjos romperam em gritos de alegria, quando o Eterno mandou que se calassem ao dizer “minhas criatura se afogam no mar e vocês entoam cantos”.
 Essas palavras, transportadas para nossos dias, levam-nos a refletir e lembrar o valor e o respeito a cada vida humana.
 A leitura da Hagadá nos passa a mensagem de que se aproxima a era da justiça e da paz com a vinda do Messias. Para isso é necessário eliminar a fermentação de sentimentos nocivos, que alimentamos dentro de nós, como o orgulho, o ódio, a injustiça, a inveja, e tudo que nos prende, nos acorrenta, nos deixa “escravos”. É importante questionarmos o sentido da vida para que tenhamos, plenamente, a consciência da liberdade na qual vivemos, assumindo a responsabilidade que cada um tem pelo seu semelhante

A raposa e a vinha

   

 O Rei Salomão, o mais sábio de todos os homens, lembra-nos de ser muito humildes, pois um homem vem a este mundo sem nada, e assim o deixará, sem riquezas.
     Nossos sábios nos contam a seguinte parábola, para que estas palavras de Salomão permaneçam frescas em nossa memória:
     Uma astuta raposa passava por um lindo vinhedo. Uma cerca alta e espessa cercava a vinha por todos os lados. Ao circular ao redor da cerca, a raposa encontrou um buraquinho, suficiente apenas para que ela passasse a cabeça por ele. A raposa podia ver as uvas suculentas que cresciam na vinha, e sua boca começou a salivar. Mas o buraco era muito pequeno para ela.
     O que fez a esperta raposa? Jejuou por três dias, até tornar-se tão magra que conseguiu passar pelo vão.
     No vinhedo, a raposa começou a comer à vontade. Ficou maior e mais gorda que antes. Até que quis sair da plantação. Ai dela! O buraco estava pequeno demais novamente. O que poderia fazer? Jejuou então três dias, até que conseguiu espremer-se pelo buraco e passar para fora outra vez.
     Voltando-se para olhar a vinha, a pobre raposa disse: “Vinha, ó vinha! Como pareces adorável, e como são deliciosas tuas frutas. Mas que bem me fizeste? Assim como a ti cheguei, assim eu te deixo...”
     E assim, dizem nossos sábios, também acontece com este mundo. É maravilhoso, mas da mesma forma que um homem chega neste mundo com as mãos vazias, assim o deixa. Apenas a Torá que estudou, as mitsvot que cumpriu e as boas ações que praticou são os verdadeiros frutos que poderá levar com ele.
                                                                                                           (rabino Nissim Katri)



    A vida constantemente nos põe à prova diante de situações de causa e efeito fazendo com que sintamos dificuldade em estabelecer uma relação entre o desejo e a limitação de nossa estrutura, a percepção entre o bem e o mal, o certo e o errado, tornando as decisões extremamente duvidosas e convidativas para cometermos erros que trarão consequências no nosso julgamento futuro. A tentação é na maioria das vezes a expressão do desejo.
    Nesta metáfora, encontramos a raposa sucumbindo ao desejo da posse do ”outro”, não medindo consequências para alcançá-lo.
      É comum nos depararmos, na vida real, com situações similares, onde as fronteiras do possível que estão em nossa mente rompem-se, não deixando que percebamos e reflitamos sobre nossos atos presentes.
      A “Ética dos Ancestrais”, com toda sua sabedoria nos diz:
     “Os que nascem estão destinados a morrer, a ser vivificados... Não penses que tua sepultura é teu refúgio, pois sem o teu consentimento foste formado, sem o teu consentimento foste feito viver, sem o teu consentimento foste feito morrer e sem teu consentimento te será exigido prestar contas.”



O pedreiro



   "Um pedreiro ganhava a vida extraindo pedras da montanha. Era um trabalho cansativo e ele vivia se lamentando: ´Por que a minha sina é ser tão pobre e humilde?´
Um dia ao subir ao topo da montanha, ele avistou um desfile. O rei estava passando e o povo o aclamava e jogava flores na carruagem real. O pedreiro, diante de tal visão, pensou:   ´Eu desejaria ser rei.´ O pedreiro não sabia que aquele era o seu momento de graça, durante o qual seus desejos seriam atendidos. Subitamente se viu transformado, sentado na carruagem real, trajando arminho e sentiu-se a pessoa mais poderosa do mundo.
    Algum tempo depois, o sol muito forte o fez transpirar sob as pesadas vestes. Ele pensou: ´Se o sol é capaz de me humilhar, então ele é mais poderoso do que eu e desejo ser o sol. ´Ele se sentiu poderoso, pois era capaz de dar luz e calor a tudo no mundo. Mas, de repente, sentiu-se muito frustrado porque uma grande nuvem se colocara abaixo dele obstruindo seus raios. Ele pensou: ´Se uma nuvem pode frustrar o sol, então a nuvem é mais poderosa. Eu desejo ser uma nuvem.´
    Sua alegria durou pouco, pois subitamente ele foi arrastado por um violento golpe de vento, contra o qual ele nada podia fazer. E ele pensou: ´Então eu serei o vento, e se sentiu poderoso.´
    Mas, de repente, ele se deparou com uma alta montanha e por mais que soprasse não conseguia passar. Se a montanha é mais poderosa, eu quero ser uma montanha e agora, de fato, era o mais poderoso.
    Repentinamente, ele sentiu uma dor aguda. Um pedreiro, com uma picareta afiada, estava arrancando pedaços dele. ´Como isto é possível? Se alguém pode me ferir, deve ser mais poderoso do que eu. Eu desejo ser este homem.´
    Seu desejo foi realizado, e ele foi transformado no mais poderoso de todos os seres: 
UM PEDREIRO."


    No sentido metafórico, este conto nos mostra a procura de como resgatar o valor do presente, desmistificando ilusões de que sonhos de poder nos trarão uma vida rica em oportunidades ilimitadas.
    Muitas vezes nos deixamos levar por especulações futuras, em que corremos o risco de junto com o que desejamos vir o que não queremos ter. O futuro é virtual, e real é a segurança do presente - a maior miragem está em nossa própria identidade. É necessário que nos reconheçamos em nosso verdadeiro “eu”, sabendo que o bem feito é o que bem sabemos fazer.
    Na busca pela sabedoria e verdade nos perdemos em devaneios esquecendo nossos valores e nossa realidade. A não aceitação de ser como somos nos fará com que deixemos de aprimorar o que melhor temos – nossa essência.
    “Não busques grandezas para ti, não ambiciones honrarias. Não desejes a mesa dos reis, porque a tua mesa é maior que a deles e a tua coroa maior que as suas.” (Talmude)






sábado, 25 de junho de 2011

O ceifeiro e sua filha


   
    Há muitos anos, um homem foi ao campo roubar trigo e levou sua filha para que ela o ajudasse nas tarefas.
    “Filha”, disse ele, “fica aqui na estrada de guarda para que ninguém me veja.”
    Mas assim que o homem começou a ceifar, a filha gritou-lhe: “Pai, estão a ver-te.”
    O homem levantou a cabeça e olhou para a esquerda, mas como não viu ninguém continuou a ceifar.
    “Pai, estão a ver-te”, gritou a criança uma segunda vez. O homem levantou a cabeça e olhou para a direita, como nada viu continuou a ceifar. Passados mais uns minutos, a menina gritou uma terceira vez: ”Pai, estão a ver-te”.
    O homem olhou para frente, mas não viu ninguém e continuou a ceifar. “Pai, estão a ver-te”, gritou a filha pela quarta vez.
    O homem olhou para trás e como não viu ninguém ficou irritado com a criança:    “Então filha?! Dizes que me veem, mas eu já olhei em todas as direções e não vejo ninguém.”
    A filha encolheu os ombros: “Mas pai, estão a ver-te dali”, disse ela apontando para o céu.
    Cada cultura constrói seus próprios princípios éticos e cada indivíduo os interpreta conforme a educação que obtém. O Judaísmo não é somente uma questão de fé, que é severa e exigente com todos. Ainda que ninguém mais neste mundo saiba, cada um será julgado pelas suas intenções. A distância entre a intenção e a conduta suscita reflexões na vida cotidiana. D’us,  Presente e Onipotente julga  O HOMEM PARA QUE HAJA JUSTIÇA SOBRE A TERRA. O mau exemplo de um pai a  seu filho é expressamente condenado nos mandamentos divinos, sintetizados nos 613 preceitos, que devem ser cumpridos para que sejamos considerados “justos”.
     O mal pode vir de fora e cedermos ou não é responsabilidade de cada um, pois esta inclinação está dentro de nossos corações.
     A filha baseada em sua fé religiosa reinvidica o valor da virtude, porque a  certeza é anterior à razão que nossa mente é capaz de produzir. Mesmo se expondo a comunicação destes dois mundos: o interno e o que perverte, “ela se entrega à própria natureza lembrando ao pai que a ‘LEI É PARA O HOMEM E NÃO O HOMEM PARA A LEI”
     “Saiba que existe acima de ti  um olho que vê, um ouvido que ouve  e todos atos sendo inscritos em um livro.”
     “UMA VIDA JUSTA É UMA RECOMPENSA POR SI MESMA.”

Um passo por vez




    
      Rabi Yisraerl Zalmn de Charchov, um discípulo do Rabi Avraham de Slonin, certa vez reclamou com Rabi Avraham.
   “Rebe, trabalhei tanto durante toda a minha vida para fazer teshuvá (arrependimento), e mesmo assim não consigo notar a menor alteração em meu caráter. Que posso fazer?"
    Rabi Avraham replicou: “imagine um homem que está preso no barro até os tornozelos. A cada passo que dá, afunda novamente no barro. Talvez pense que não está conseguindo nada com estes passos, mas a verdade é que cada passo o aproxima mais da terra seca”.

    Neste conto é necessário distinguir a vontade pessoal da necessidade do imediato e de ver os resultados. É necessário dar continuidade aos nossos esforços, criar raízes sólidas, assimilar e internalizar o aprendizado sem precipitação. O que caracteriza o conhecimento é o estudo sério, é ir do conhecido ao desconhecido.
    Um erudito estará “integrado no seu estudo” tomando cuidado para rever sempre  aquilo que estudou, “Ouvindo e acrescentando”,  no sentido de considerar que nunca sua educação estará terminada, mas que a cada degrau, a cada passo, a cada aprendizado, ele estará se tornando mais sábio.

    A teshuvá não se dá apenas de fora para dentro. É importante ter firmeza e certeza de que no empenho de encarar as adversidades da vida conseguiremos, passo a passo encontrar fundamentos para nos fortalecer e que as “ações” diárias de nossas vidas não arruinarão nosso pensamento ou nosso caráter, e nem interferirão em nossa fé ou devoção religiosa e que, a cada passo dado, o mundo sai do lugar nos levando a uma riqueza abundante de saber.

Um bolo eternamente sujo

 

  Um velho e rico avarento andava pela rua com um bolo que acabara de comprar, quando este lhe caiu das mãos e rolou pela poeira e lama da estrada. Neste momento, um pedinte passou por ele e lhe pediu algo para comer. O avaro deu-lhe imediatamente o bolo sujo, contente por se livrar dele.
     Nessa noite, o rico avaro sonhou que estava sentado num animado café, cheio de gente, com os empregados atarefados a trazer para as mesas as mais preciosas delícias da pastelaria, e só ele não era servido.
     Ele esperou até que se lhe esgotou a paciência e decidiu reclamar. Depois de tanto esperar, um dos empregados lhe trouxe um pedaço de bolo, sujo e coberto de lama.
    -“Então, o que é isto? Como se atreve a trazer-me um bolo todo emporcalhado? Sabe quem eu sou? Sou um homem muito rico e não mereço ser tratado dessa maneira.”
     O empregado encolheu os ombros:
    - ”Desculpe-me, mas o senhor está enganado. Aqui não se pode comprar nada com o seu dinheiro, o senhor chegou à Eternidade e só tem direito ao que enviou antecipadamente do Mundo dos Vivos e a única coisa que mandou foi este bolo sujo e enlameado, e será a única coisa que lhe poderei servir.”
A pretensão de superioridade leva a manifestações ostensivas de arrogância, mas a soberba não é só privilégio dos ricos, não vem só através de bens materiais. Muitas pessoas se sentem superiores a outras por se acharem melhor no que fazem. Para o soberbo, ele deve estar sempre no topo depreciando o outro, vangloriando-se de sua suposta superioridade.
     De tudo que existe no mundo podemos absorver ensinamentos para nossa vida, para a busca das nossas verdades, para o nosso crescimento espiritual.
     Neste conto, o avaro, através de um sonho, tem sua vida exposta do oculto para a realidade, mostrando que o que aqui fazemos nos será cobrado adiante. O dinheiro, a riqueza e a avareza induzem ao erro, sendo necessário que uma situação externa, com necessário distanciamento (como o sonho) leve à lógica do discernimento que D’us nos dá o que nos provém, mas com sua Sabedoria nos cobra o que não sabemos utilizar para o bem comum.
     Segundo Pirkê Avot: “Sê cuidadoso tanto na prática de uma mitzvá menor como de uma mitzvá importante, pois tu não conheces a recompensa que vem de uma ou de outra.”
     “Reflete em três coisas e não cairás no poder da transgressão: sabe de onde tu vens, para onde vais e diante de Quem estás destinado a prestar contas no futuro.”

Quando me apaixono

  
   Esta semana assisti ao filme "Quando me Apaixono" que realmente me apaixonou. É uma história de superação, questionamentos e decisões. Dirigido e protagonizado pela grande Helen Hunt, que brilha em suas nuances de interpretação me deixando aquele nó na garganta, lembrando momentos vividos e ultrapassados por tantas barreiras que a vida sempre nos impõe.

    O filme começa assim...

    Um conto judaico, onde o pai, para ensinar seu filho a ter coragem, pede que ele pule de uma escada. O pai põe o filho no 2º degrau e fala:- pule, que eu o agarro.
    Coloca o filho no 3º degrau e fala: - pule, que eu o agarro.
    Coloca mais alto e fala:- pule, que eu o agarro. O garotinho, cheio de medo, mas confiando no pai pula no seu colo.  O pai ia pedindo que cada vez subisse mais alto e, mesmo com muito medo, o menino obedecia.

    O garoto pulou de um degrau bem alto e o pai se afastou. O garoto se estatelou no chão, se machucando, sangrando e chorando. Então, o pai lhe diz: - aprenda a lição.

    Ao final do filme, depois de uma história recheada de emoções, desafios, superações, a história se repete. Quando ao final, no último degrau, o menino pula, ele não cai, ele “vive”, ele aprende que na vida os obstáculos serão muitos, mas a nossa capacidade de sobrevivência deverá ser sempre maior e que devemos sempre confiar nos nossos limites e no quanto somos capazes de realizar.

     “Conduta própria” aqui pode significar os valores éticos e morais seculares. A experiência e a razão humanas podem encontrar a habilidade para formular princípios éticos, mas não encontrarão a força necessária para compelir a humanidade a cumpri-los e a viver com eles e por eles. Por outro lado, a Torá não terá um lugar central em nossas vidas, não será propriamente entendida e observada, a não ser que haja um senso de ética, de decência, de “conduta própria”.
 
    “Segure a mão do seu filho para que ele possa andar. Solte-o para que ele possa correr e o aplauda para que possa voar.”

O Espelho


    Numa pobre cidadezinha, o rabi sempre ia pedir auxílio para os necessitados. Quem podia, ajudava.
    Chegou um ricaço de outra cidade, parente de algum morador, e o rabi foi falar com ele. Este se recusou em ajudar, alegando que tinha muitos problemas seus para resolver e que não tinha tempo para se preocupar com os outros. O rabi chamou-o e levou-o até a janela, perguntando-lhe:
     - O que você vê através do vidro?
     -Eu vejo gente.
     Levou-o até o espelho e perguntou:
     -O que vê agora?
     -Eu vejo a mim mesmo.
     - Assim é a vida -  disse o rabi. - Basta uma camada de prata para que o homem deixe de ver os outros para ver a si mesmo.
     Para o judaísmo a riqueza não é ruim, exceto quando faz com que  se perca de vista D’us e o próximo.


    Segundo Pirkê Avot, o amor é uma atitude que deveria ser dominante  em toda sociedade.    Quando começa a indiferença entre os próximos dá-se a transgressão da dignidade da vida humana. Sem os preceitos da Torá, teremos seres insensíveis, que só pensarão em si, não cumprindo  a mitzvá de que é dando que se recebe. O bem maior é  se tornar digno de pertencer a uma comunidade onde o olhar a si não seja superior ao olhar o próximo.
    Diz um ditado rabínico, que os homens se preocupam com a perda das suas posses, quando deveriam se preocupar com a perda dos seus dias, que jamais serão devolvidos.

Jogo de Damas


  Num dos dias de Chanukah, o rabi Nahum, filho do rabino de Rizhin, entrou na Sinagoga e encontrou os seus alunos a jogar Damas, como era de costume naquele tempo. Quando viram o rabino, envergonharam-se e pararam de jogar, mas o rabi Nahum sorriu e pediu-lhes que prosseguissem. “Sabem que as regras do jogo de Damas são muito parecidas com as regras da vida? Pois reparem: a primeira é que não se podem fazer duas jogadas ao mesmo tempo. A segunda diz que apenas se pode andar para frente, e nunca para trás. E por fim, quando se chega à última casa, alcança-se o dom de poder finalmente andar em qualquer direção.”

     A palavra Chanukah significa “dedicação” ou “inauguração”
     Neste conto temos, dentro da nossa cultura judaica, o significado amplo, revelando um mundo extremamente complexo possibilitando formas e possibilidades de modificar nossos pensamentos e decisões, buscando nas entrelinhas verdades que nos fazem conhecer melhor o meio em que vivemos e a realidade que produz resultados.
     Trazendo as palavras para um mundo significante sentimos que as regras da vida permitem que “inauguremos” novas interpretações entre o pensar e o fazer, e que, a cada atitude, a resposta nos será revelada de acordo com os valores de cada um.
     É fundamental saber utilizar os instrumentos que penetram nesta dimensão, nos levando a discernir que é necessário caminharmos sempre para frente, observando o ensinamento que a Torá nos transmite e que nos diz respeito a encontrar sentido. E este sentido nos levará à sabedoria, à paz, percebendo o caminho que nos conduzirá a compreender o verdadeiro respeito à vida e para aonde nossas atitudes nos conduzirão.
     As luzes da Chanukiah simbolizam que a Tora, com sua mensagem de bondade, justiça e devoção a D’us, sempre prevalecerão sobre a escuridão.
     A Torá nos ensina que “A ALMA DO HOMEM É A LÂMPADA DE D’US”.

Fábula da Verdade


    “Um dia, a Verdade andava visitando os homens, sem roupas e sem adornos, tão nua como o seu nome. E todos que a viam viravam-lhe as costas de vergonha ou de medo, e ninguém lhe dava as boas vindas. Assim, a Verdade percorria a Terra, rejeitada e desprezada. Uma tarde, muito desconsolada e triste, encontrou a Parábola, que passeava alegremente, num traje belo e colorido.
    - Verdade, por que estás tão abatida? - perguntou a Parábola.
    -Porque devo ser muito feia, já que todos me evitam tanto! - respondeu a Verdade.
    -Que disparate, não é por isso que te evitam. Toma, veste algumas das minhas roupas e vê o que acontece. - falou a Parábola.
    Então, a Verdade pôs algumas das lindas vestes da Parábola e, de repente, por toda parte onde passava era bem-vinda.
    – Os homens não gostam de encarar a Verdade nua,  eles a preferem disfarçada.”
                                                                            
                                                                             (Conto Judaico - Autor desconhecido)  


    Estamos num mundo de grandes transformações onde somos forçados a acreditar, através da mídia, em tudo que nos é imposto. Às vezes, quando apresentada, não nos leva a encarar como uma verdade, fugindo do senso comum, chocando nossa consciência crítica. A verdade para uns pode não ser para outros. Dependendo da forma como ela se apresenta possui inúmeros significados. Este pensamento implica no imaginário, na realidade e de como se vê o mundo.
     Dentro da Tradição Judaica, temos as Fábulas, que nos remetem ao oculto e às indagações ao aceitá-la, dentro de um contexto  de fantasia, analisando a busca da verdade. Cabe-nos a responsabilidade e o discernimento de reconhecer e classificar como falso ou verdadeiro.
    “Em três coisas se sustenta o mundo: a Justiça, a Verdade e a Paz.”

O Céu e o Inferno



    Um rabino foi convidado por D’us para conhecer o Céu e o Inferno. D’us o levou primeiro ao inferno. Ao abrir-se a porta, viram uma sala em cujo centro havia um caldeirão cheio de suculenta sopa. À sua volta estavam sentadas pessoas famintas e desesperadas. Cada uma delas segurava uma colher de cabo tão comprido, que era possível alcançar o caldeirão, mas não a própria boca.
    O sofrimento era imenso.
    Em seguida, D’us levou o rabino para conhecer o Céu. Entraram em uma sala idêntica à primeira. Havia o mesmo caldeirão, pessoas em volta e as mesmas colheres de cabo comprido. A diferença é que todos estavam saciados.
    - Eu não compreendo! - disse o rabino.
    -Aqui as pessoas estão tão felizes, enquanto na outra sala morrem de aflição. Por que,  se é tudo igual?

    D’us sorriu e respondeu:
    -Você não percebeu? É porque aqui, elas aprenderam a dar comida umas as outras.
                                                                                              (Lenda Judaica)

 
    O amor ao próximo é a essência de toda ética. O pensamento judaico rejeita o isolamento incentivando a caridade e a ajuda. Não somos “um indivíduo”, somos “um povo”. Um povo escolhido para através das mitzvot encontrar a união dentro do princípio de que todos os homens são responsáveis uns pelos outros, e ter a certeza de que “nem no Paraíso é bom ficar sozinho”
    A falta de solidariedade é um modo contínuo que devemos mudar com nossas atitudes sabendo avaliar sua extensão. Se cada um fizer a sua parte, incentivando a prática da boa cidadania, estando não só junto, mas presente quando da necessidade do outro, unindo forças pelo bem comum, teremos um mundo onde as pessoas saberão dividir e solucionar problemas. Assim não teremos nem Céu nem Inferno, só um mundo de Solidariedade, Amor e Paz.

Uma Fábula Judaica



Três mulheres conversando ao lado de um poço. Um velho as escutava.
A primeira mulher dizia: - Meu filho é muito forte, corre e pula.
A segunda dizia: - O meu filho canta como os passarinhos.
A terceira mulher nada dizia, então o velho perguntou: -Você não tem filhos?
Ela respondeu: - Tenho, mas ele é um menino normal como todas as crianças.
As três mulheres pegaram seus potes cheios de água e foram caminhando. No meio do caminho, elas pararam para descansar e o velho homem sentou ao lado delas.
Logo elas viram seus filhos voltando para perto delas. O primeiro vinha correndo e pulando, o segundo vinha cantando lindas canções. O terceiro não vinha pulando nem cantando, ele correu em direção a sua mãe e pegou o pote cheio de água e levou para casa.
Então as três mulheres perguntaram para o velho homem: - O que o senhor achou dos nossos filhos?
E o velho homem respondeu: - Realmente, eu acabei de ver três meninos, mas vi apenas um filho.

    Seguindo Maimônides, é mais importante pensar sobre qual condutas devemos adotar para que nos tornemos seres humanos melhores, do que perder tempo com coisas que não trarão benefício para o nosso desenvolvimento pessoal. O verdadeiro valor ético e moral é aquele que preserva e respeita pai e mãe, que ama o próximo como a si mesmo, fazendo o bem a quem dele precisa.  É preciso que nossos filhos recebam bons exemplos para que possam transmitir aos seus filhos e por todas as gerações.
    Neste Yom Kipur tivemos a bênção de, junto com o Shabat e o toque do Shofar, receber um Ano especialmente sagrado. E obedecendo aos ensinamentos da Torá, pedir proteção para que nos sintamos mais fortes, sabendo nos conhecer e ao próximo. Que possamos fazer uma reflexão de nossos atos desejando liberdade, solidariedade e muito amor.

CONTOS JUDAICOS SOB A VISÃO DE UMA SIMPLES PROFESSORA

              Nos dias de hoje, onde algumas pessoas  se esquecem  de alimentar não seu corpo, mas sua alma, a tradição judaica com seu acervo rico de sabedoria e regras nos traz um fundo de ensinamentos com seus princípios éticos e morais.
            Através dos contos, que nos possibilitam diversas interpretações, profundas como a dos sábios e menos profundas como a dos leigos, respeita a nossa única verdade - A DE QUE SEREMOS JULGADOS NO DIA DO JUÍZO FINAL. E é nesta verdade que nos inserimos, obedecendo e respeitando as regras do nosso povo, tão antigo no tempo quanto no saber. O acervo de contos, que nos são transmitidos e que passamos aos nossos filhos e aos filhos dos nossos filhos por gerações, a cada era serão interpretados de modos diferentes, pois cada cabeça pensante acumula novas experiências, e esta sabedoria popular e anônima, através da transmissão oral e do seu grau de religiosidade, a repassa com sua própria visão do mundo.
            Além da sabedoria atemporal, aplicável a todas as épocas, encontramos uma diversidade de interpretações típicas do pensamento judaico, pois possibilitam a discussão e a dúvida.
            Como professora, muitas vezes, recorro a estes contos com a finalidade de trazer o questionamento da ética e da moral de fundo didático.
            Os contos são populares, pertencem na maioria ao folclore de diversas culturas, que a adaptam a realidade a que pertencem.
            Contar histórias é um ato de amor, de doação, de transmitir, sabendo respeitar no outro a sua visão do conto. Esta é a verdadeira sabedoria. Contar histórias, não é apenas informação, que se perde através dos anos. É tocar fundo a alma de quem ouve assimilando por todo sempre e repassando para novas gerações, atualizando com novos aprendizados e se integrando à sociedade mais um cidadão da nossa comunidade, mais um cidadão do mundo.
‘Há quatro tipos de aprendizagem: os que podem ser comparados à esponja, ao funil e à peneira.
“A esponja tudo absorve; o funil tudo concentra, mas nada retém; o filtro retém as impurezas, mas perde o vinho; já a peneira retém o que é precioso, e libera o refugo.”
                                                                       ÉTICA DOS ANCESTRAIS, 5:19