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sábado, 24 de dezembro de 2011

O rei Salomão e o anel mágico

     O rei Salomão foi um dos mais sábios de todos os homens. Ele entendia até mesmo a linguagem dos pássaros e de outros animais. Por ser tão inteligente, às vezes ficava tão feliz e não se comportava como um rei. Outras vezes ficava tão triste, que tudo lhe parecia sombrio e sem esperança.
Numa manhã, ao sair para ir ao Mercado, viu lojistas vendendo seus produtos e crianças brincando na rua. De repente, avistou um comerciante contando vantagem: “Eu sou o maior joalheiro de toda a Terra. Ninguém faz uma joia como eu!”.

     Salomão não gostou de ouvir alguém tão convencido. Foi até o homem e disse: “Você realmente acha que é o joalheiro mais talentoso da Terra? Então, eu quero que me faça um anel que me deixe calmo quando estiver muito feliz e eufórico. E quando eu estiver triste e deprimido, me levante o ânimo. A joia deverá ser entregue até amanhã à noite.”.
     O comerciante ficou muito preocupado com a ordem do rei, porque era um simples artesão. Foi para casa triste e amedrontado, pensando como faria para produzir tal anel. Pensou muito e, tendo uma ideia, começou a criar o anel, moldando-o em ouro enquanto trabalhava.
     No dia seguinte, correu para o palácio levando o anel para o rei. O rei Salomão olhou para o anel e para o comerciante, concordando com a cabeça. “Você realmente realizou o meu pedido. Toda vez que eu olhar para esse anel, saberei que as tristezas são temporárias e que os momentos alegres também se vão.” No anel estava gravado:
                             “ISSO TAMBÉM PASSARÁ”.

     A vida é feita de momentos. Momentos em que nos faltam o chão, quando nos sentimos incapazes de ultrapassar os obstáculos que nos cegam não deixando que vejamos soluções para resolvê-los. Nesta hora esquecemos que nada nos é dado sem que tenhamos condição da superação.
     “Preocupações não ajudam o presente, mas seguramente arruínam o futuro.”
     Momentos de muita alegria, felicidade e paz farão parte do nosso viver e gostaríamos de eternizá-los.
     Mas é nesse vai-e-vem que a vida mostra que tudo tem um motivo para ser vivido, sendo das dificuldades que tiraremos força para o nosso crescimento, nossa evolução, nossa sabedoria de vida, encontrando a fé no Divino.
     Neste conto, o rei Salomão, considerado o Sábio dos sábios, reconhece que a vida sempre nos proporciona duas faces, e nenhuma delas é eterna. Assim como gira o mundo, as alegrias e tristezas seguem o mesmo caminho, fazendo com que encontremos o nosso equilíbrio e reconhecendo que             “ISSO TAMBÉM PASSARÁ

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Contradições

     Conta-se que dois amigos em um restaurante encomendaram ao garçom um mesmo prato.
     Quando o garçom trouxe os dois pratos, havia duas partes distintas, uma delas bastante maior que a outra. Os dois amigos começaram a fazer cerimônia, dizendo que o outro que escolheria primeiro. Finalmente, um deles tomou a iniciativa e escolheu a parte maior.
     O outro ficou horrorizado e não se conteve:
    “Não acredito no que você fez!”
     O primeiro, surpreso, disse: “Mas o que foi que eu fiz?”
     “O que você fez? Você viu que tinham duas postas diferentes, uma maior e a outra menor... e você foi logo pegando o maior!”
     “Mas o que você teria feito no meu lugar?” - indagou o primeiro.
     “É óbvio que eu teria pegado o menor.”
     O primeiro então concluiu: “E então... qual é o seu problema?”

     As palavras muitas vezes têm sentido contraditório e a resposta está no sentir. A vulnerabilidade das nossas emoções nos faz transformar uma palavra num sentimento dúbio de verdade e mentira, fazendo com que situações sem importância caiam num vazio, em que recuperar o perdido seja difícil sem deixar marcas.
     Não assumir a consequência de nossos atos, transferindo ao outro as decisões que temos de assumir, faz com que sintamos incômodo pelas atitudes que não tomamos.
    Estamos sujeitos a nos eximir de atos que possam nos constranger, refletindo um conflito em lidar com a imagem que muitas vezes vemos espelhadas ao nos olharmos.

     “É fácil censurar os outros; difícil é ser censor dos próprios atos"
                                                                                      (texto judaico)

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Os figosPor Elenise Benjó



Num reino distante, o rei possuía uma plantação de figos especiais e incumbiu dois deficientes, um que era cego e outro que era aleijado, para tomar conta da plantação. Depois de algum tempo, o rei avisou que já havia figos maduros. O cego disse ao aleijado: “Leve-me até os figos porque não posso ver!” O aleijado retrucou ao cego: “Mas eu também não posso ir porque não posso andar!” Então o aleijado subiu nos ombros do cego e eles comeram dos figos.

Passado um tempo, o rei cobrou: ”Onde estão os figos? O cego disse: “E como vou saber? Eu sou cego!”. O aleijado também se desculpou: “E eu, como vou saber? Eu sou aleijado!”. O rei, porém, era esperto; carregou o aleijado, colocou-o sobre os ombros do cego e disse: “Foi assim que comeram os figos!”

A sabedoria popular judaica inclui conselhos que, se observados, farão com que a distância da intenção em relação à conduta nos manterá longe das tentações da vida, tendo a noção exata do certo e do errado numa dimensão mais próxima da realidade. É nesse processo evolutivo que tomamos consciência de que não somos apenas corpo que nos serve de vestimenta para a alma. É na transparência da alma que temos a dimensão da lucidez nos tornando só UM.
“Onde quer que nossos pensamentos estejam, é lá que estamos”.
As metáforas apresentadas neste conto tentam reproduzir a relação entre o corpo e a alma. O corpo mutilado sem pernas para alcançar e olhos para ver encontrará na alma a transparência, a essência da existência, onde reside o bem e o mal. Neste duelo estará o Divino para julgar atos dissimulados e cometidos, fazendo com que nos percamos de nós mesmos.
“Uma consciência culpada não necessita de nenhum acusador”. (Talmude)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Conto Judaico

     Conta-se que em certa região da Europa já não chovia há meses. Os agricultores estavam desesperados. Como é de costume na tradição judaica em períodos de seca, institui-se um dia de jejuns e orações. Desde tempos bíblicos, o jejum está associado à contrição e à concentração, ingredientes tidos como fundamentais para orações e rituais petitivos.

     A dita cidade resolveu decretar um dia de orações e jejum para pedir chuva. Todos ocorreram à sinagoga, mas o rabino não apareceu.

     Resolveram procurá-lo em sua casa e, para surpresa geral, ele estava tranquilamente almoçando.

     Perguntaram:
‘”Desculpe-nos pela intromissão, ilustríssimo rabino, mas acaso o senhor não sabe que hoje foi decretado um jejum?”

     O rabino, sem se abalar, respondeu:

     - “Jejum? Por quê?”, - reagiu, ironicamente.

     - Porque estamos atravessando uma seca muito intensa. Por isso estamos nos congregando na sinagoga com muita fé à espera de milagres.

     O rabino foi, então, até a janela e, observando a multidão que ocorria à sinagoga, disse:

     -Fé? Então todos estão rezando por chuva, mas não há um único indivíduo carregando um guarda-chuva.



     O judaísmo não é simplesmente uma questão de fé, também é um modo de vida condicionado à fé.

     Dentre os textos judaicos populares temos argumentos contraditórios abordando tanto a fé quanto a dúvida.

     A intenção da fé, muitas vezes, mantém uma distância em relação à conduta, aceitando que milagres sejam possíveis, mas desconfiando deles. Muitas vezes o milagre parece acontecer mais pela vontade e pelo esforço, lembrando os dizeres do Talmude “ESPERE O MILAGRE COM FÉ, PORÉM AJA COMO SE ELE FOSSE IMPOSSÍVEL”. Contradizendo dessa forma as palavras de um mestre chassídico que, em sua sabedoria, legou a nossa cultura os dizeres “UM HOMEM DEVERIA ACREDITAR EM DEUS PELA SUA FÉ E NÃO PORQUE VÊ MILAGRES”.

     O imaginário é o lugar onde habitamos e a escolha cabe a nós, dependendo de nossas intenções encontraremos o verdadeiro caminho para o que acreditarmos.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

CONTO CHASSÍDICO

O rabi Chaim de Zans perguntou a um transeunte qualquer:
 -Se encontrares uma bolsa cheia de dinheiro, a devolverias a seu dono?
 - É claro! – disse o homem. – Eu a devolveria no mesmo instante!
 - És um bobo – disse o rabi
 Parou outro homem e fez a mesma pergunta.
 -Não devolveria nada. Não sou tão louco – disse este.
 - És uma má pessoa – disse o rabi.
 Então chamou um terceiro homem.
 - Rabi, como poderei saber em que situação estarei quando isso me acontecer? Talvez não possa, neste momento, resistir à inclinação ao mal e me apodere do que não é meu. Porém, também pode ser que D’us, bendito seja, me ajude a lutar contra ela e, neste caso, procuraria o dono.
 -Apenas tu és sábio – disse o rabi Chaim de Zans


     Ser sábio é quem sabe respeitar a moral e os costumes, sendo humilde, gentil e tratando o outro como gostaria de ser tratado.

     É uma questão de equilíbrio, sendo necessário viver, comungar com as coisas mundanas sem esquecer suas obrigações; é ter alegria de viver e nelas incorporar regras de ética e moral.

     De onde vem a sabedoria? Onde está o lugar do entendimento? D’us entende seu caminho e sabe seu lugar.

     Salomão, o Grande Sábio, nos leva ao questionamento da sabedoria, onde coloca que ela nos conduzirá ao correto e carecendo dela, tenderemos para o pecado, de acordo com o modo que vivemos. Interpretando suas palavras, temos a linguagem figurada de um machado que, não sendo agudo, necessitará de mais força para que se corte algo e, metaforicamente falando, a sabedoria de D’us sempre será aguda e nunca perderá o corte.

      Reconhecendo que as ações são reflexos das situações e que só passando por elas teremos o conhecimento de nossas atitudes, sábias ou não, diz um ditado judaico: “NÃO CHAME DE HONESTO UM HOMEM QUE NUNCA TEVE A OPORTUNIDADE DE ROUBAR.”

      “O caminho para a sabedoria é uma forma de ética.”

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

DESAFIOS

          Certo rabino era adorado por sua comunidade; todos ficavam encantados com o que dizia.
          Menos Isaac, que não perdia uma chance de contradizer as interpretações do rabino e apontar falhas em seus ensinamentos. Os outros ficavam revoltados com Isaac, mas não podiam fazer nada.
          Um dia, Isaac morreu. Durante o enterro, a comunidade notou que o rabino estava profundamente triste.
          - Por que tanta tristeza? – comentou alguém. – Ele vivia colocando defeito em tudo o que o senhor dizia.
          - Não lamento por meu amigo que hoje está no céu – respondeu o rabino. – Lamento por mim mesmo. Enquanto todos me reverenciam, ele me desafiava, e eu era obrigado a melhorar. Agora que ele se foi, tenho medo de parar de crescer.
           “A verdadeira sabedoria é aquela que permite a discussão e a dúvida.”


          Somos constantemente testados e provados para o que queremos perguntar, sabendo que perguntas e respostas se contradizem e se opõem mutuamente necessitando discernir sua origem e finalidade.
          O objetivo deste conto é nos fazer refletir sobre os desafios dos “porquês”.
          Na relação professor x aluno, este questionamento deve estar sempre presente. O bom professor é aquele que não se preocupa em ser questionado, gosta de desafios e aprende com seus alunos
          Existem, em toda a verdade, opiniões admitidas como válidas e que aparentemente têm sentido - são os paradoxos.
          Toda pergunta/resposta depende das verdades de quem as tem, as diz e as ouve. Todo questionamento leva ao pensamento crítico e lógico da inteligência, ao desafio da capacidade de cada um elaborar seus pensamentos. Uma indagação leva sempre a outras, adicionando e contribuindo para o desenvolvimento dos padrões do nosso saber.
          No judaísmo a pergunta é mais valorizada que a resposta.
          “O essencial não é encontrar a verdade, e sim pesquisar e procurá-la.”

terça-feira, 25 de outubro de 2011

CADÊ EU?


     Numa cidade vivia um menino distraído e esquecido. Nunca encontrava suas coisas na hora que procurava.   De manhã, na hora de se vestir e ir para a escola, era um problemão. Um dia teve uma idéia: pegar um papel, anotar o que precisava para não se esquecer de nada. E assim fez.
     Acordou, levantou-se, pegou a lista e começou a procurar suas coisas: achou a roupa, os sapatos, a pasta com os livros e cadernos. Já ia saindo quando começou a chorar. Sua mãe o acudiu assustada e perguntou o que houve. Respondeu o menino:
     -Eu achei tudo  que estava na lista, menos uma coisa. Cadê eu?


    Enxergar o mundo com os olhos de uma criança remete-nos aos grandes desafios não resolvidos e esquecidos, mas que voltarão à nossa lembrança fazendo que nos percamos de nosso “eu”, da nossa auto-referência e da concepção que temos de nós.
    Este conto usa a figura infantil e sua fala para mostrar o que precisamos deixar de ser fazendo com que a criança, que insiste em morar em nós, enfrente o mundo adulto com seus obstáculos, resgatando o que deixamos perdidos e que em vão tentamos esquecer.

    Resgatando os fragmentos, que distorcem nossos valores iremos à busca do nosso “eu”. Para sobrevivermos é necessário não abrirmos mão de nós mesmos e a cada momento surgido tentar recolher todos os pedacinhos de nosso ser, reconstruindo nossa personalidade e fazendo de nós o diferencial neste mundo que vivemos.

    Nesta busca, neste encontro, deixaremos de perguntar: "Cadê eu?"

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O PONTO NEGRO

     Certo dia, um professor chegou à sala de aula e disse aos alunos para se prepararem para uma prova-relâmpago.

     Todos acertaram suas filas, aguardando assustados o teste que viria.

     O professor foi entregando, então, a folha da prova com a parte do texto virada para baixo, como era de costume.

     Depois que todos receberam, pediu que desvirassem a folha. Para surpresa de todos, não havia uma só pergunta no texto, apenas um ponto negro, no meio da folha.

     O professor, analisando a expressão de surpresa que todos faziam, disse o seguinte:

      - Agora, vocês vão escrever um texto sobre o que estão vendo.

     Todos os alunos, confusos, começaram, então, a difícil e inexplicável tarefa.

     Terminado o tempo, o mestre recolheu as folhas, colocou-se na frente da turma e começou a ler as redações em voz alta.

     Todas, sem exceção, definiram o ponto negro, tentando dar explicações por sua presença no centro da folha.

     Terminada a leitura, a sala em silêncio, o professor então começou a explicar: - Esse teste não será para nota, apenas serve de lição para todos nós. Ninguém na sala falou sobre a folha em branco. Todos centralizaram suas atenções no ponto negro
     O ponto negro representa o desconhecido, o que aciona em nossa mente o descontrole dos momentos de medo, da busca do que não se conhece e que habitam nossas fantasias.

     Nesse olhar, que busca o que nos falta, o de não sabermos o que queremos, de situações comprometidas com o “sem saída”, deixamos de ver a simplicidade da vida nas atitudes que não tomamos.

     É necessário educar nossa visão para o “além” do ponto negro: o que temos ao redor, as boas coisas que a vida nos oferece, a família que construímos o sustento que conquistamos, as amizades que fizemos, a saúde e as alegrias do dia-a-dia.

     Nossa memória afetiva necessita ser ampliada para que não vejamos apenas o ponto negro, e sim todo o bem que está à nossa volta e termos a certeza que, com a força do bom pensamento, podemos reverter situações, pois não há mal que nunca tenha um fim.

    SOMOS SEMPRE LEVADOS PARA O CAMINHO QUE DESEJAMOS PERCORRER.”

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

UM CONTO

     Conta-se que no século passado um turista viajou a Jerusalém, com o objetivo de visitar um famoso sábio.

     O turista ficou surpreso ao ver que o sábio morava num quartinho muito simples e cheio de livros.

     As únicas poucas peças de mobília eram uma cama, uma mesa e um banco.

      - Onde estão seus móveis?  - perguntou o turista.
      O sábio, bem depressa olhou ao seu redor e perguntou também:

      -E onde estão os seus...?
      -Os meus?!  - surpreendeu-se o turista - mas estou aqui só de passagem!
      -Eu também... -concluiu o sábio.

     Esta passagem é muito importante, mostrando-nos imagens interessantes da formação da bagagem que trazemos ao cortarmos nosso cordão umbilical com nossa mãe, das quedas na procura do nosso “eu”, das nossas experiências de dor, dos encontros curativos, dos tropeços, das nossas vitórias e as experiências que o mundo-referência fará escolher o que guardarmos.

     Por vezes, a bagagem torna-se muito pesada para que sozinhos possamos transportá-la em tão longa ou curta viagem, pois só o Criador determina esse tempo. E é neste tempo que tomamos consciência que o tempo desse tempo que imaginamos e ansiamos não é a espera e sim a qualidade que damos a ele. Quanto e qual o tempo? Nossa dúvida ao arrumar nossa bagagem nos traz o sentimento de finitude e esquecemos que o amanhã pode ser que não chegue e que o “hoje” é sempre o “hoje” - o momento que vivemos.

     É importante selecionar o que queremos levar conosco, não só em bens materiais, mas o produto de uma sabedoria de vida, da busca do nosso “eu”, da estrutura da fé, do controle dos nossos desejos e de nossa estabilidade emocional.

     E nesse encontro descobrimos que nossa bagagem está completa, cheia de sabedoria, e tomamos a consciência que aqui estamos apenas de passagem devendo aprimorar nosso conhecimento e a nossa fé, pois é o que levaremos junto a nós.

     “Qual é o homem mais sábio e mais digno de confiança? O que aceita as coisas como elas são.”

terça-feira, 4 de outubro de 2011

FOLHA EM BRANCO

     Certo dia, um professor estava aplicando uma prova aos seus alunos, que, em silêncio, tentavam responder as perguntas com certa ansiedade. Faltavam uns quinze minutos para o encerramento e um jovem levantou o braço e disse:
     - Mestre, pode me dar mais uma folha em branco?
      O professor levou a folha até sua carteira e perguntou-lhe porque queria mais uma folha em branco. O aluno respondeu:
     - Eu tentei responder as questões, mas minhas ideias estavam confusas e queria começar outra vez.
      Apesar do pouco tempo que faltava, o professor confiou no rapaz, deu-lhe a folha em branco e ficou torcendo por ele. A atitude do jovem causou-lhe simpatia que, tempos depois, ainda se lembrava daquele episódio simples, em que um jovem reconhecia sua confusão e procurava retificá-la.


     “Que tipo de pessoa eu me tornei?”

     Estamos numa época de muitas reflexões, arrependimentos e o compromisso de adotar posturas que nos tornem melhores seres humanos.

     Segundo o Talmude “As transgressões do homem contra D’us – o Dia do Perdão as absolve, porém as transgressões contra o próximo, o Dia do Perdão não as expia a menos que o indivíduo se reconcilie com o próximo e repare o erro cometido.”

     Metáfora é uma das mais poderosas figuras de linguagem com sentido de comparação, coexistindo com histórias, levando mensagens que queremos comunicar.

     Este conto nos transmite que mesmo que não peçamos, o Divino nos oferece a cada dia uma nova folha em branco para que contemos nossa história, corrigindo erros, assumindo um novo capítulo baseado em regras éticas e escrevendo, usando as tintas do coração, o “nosso livro da vida”, onde estarão em letras vibrantes: a dignidade, fraternidade, esperança e a fé. E nesse “hoje”, reflitamos sobre todos os atos cometidos, corrigindo-os e nos tornando dignos de mais uma vez sermos inscritos no “LIVRO DA VIDA”

     Que este ano possa ser um ano de equilíbrio, que tenhamos a percepção de fazer parte de um mundo “ÚNICO”, onde as diferenças sejam vistas apenas como “diferença”, sem preconceitos, nos unindo por uma vida plena de amor e respeito.
 
     GMAR CHATIMÁ TOVÁ!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O ARREPENDIMENTO

     Dois homens estavam em um trem para visitar um grande rabino; um estava deprimido e preocupado, enquanto o outro estava alegre e feliz, totalmente despreocupado. Ambos iam pedir conselhos para o Ano Novo que se aproximava e como ter um julgamento positivo. O mais alegre tentou animar seu companheiro, de várias maneiras, mas sem sucesso.
 
     Ao chegarem ao rabino, este questionou sobre suas ações no ano que passou: o mais triste informou que tinha cometido um grande pecado, enquanto o outro disse que não fizera “nada de mais”. O rabino, então, pediu que ambos fossem ao jardim da cidade. Ao triste ordenou que trouxesse a maior pedra que encontrasse lá e ao alegre que lhe trouxesse um saco cheio de pedrinhas. Após retornarem com a “missão cumprida”, o rabino ordenou que ambos recolocassem as pedras no exato local de onde as tomaram, explicando que esse processo era similar ao da Teshuvá.
 
     Ele explicou:
      - A ti, que estava triste por teu grande pecado, trazer a pedra grande trouxe a exaustão e isto incomodou, assim, também, o teu pecado foi um grande fardo e incomodou, logo teu arrependimento é mais duro, porém “mais fácil” é consertar tua falha (levar a pedra de volta ao exato local). Já tu, que não deste importância às pequenas falhas, garanto que terás muita dificuldade de colocar este monte de pedrinhas no seu exato local. Neste momento, o “triste” removeu seu duro fardo e estava alegre em saber que podia corrigir sua falha. Já o “alegre” ficou preocupado, pois realmente não sabia como devolver as pedras no jardim, menos ainda corrigir as falhas que não eram ”nada de mais
”.




     Estamos a poucos dias de Rosh Hashaná, que é considerado o Dia do Início do Julgamento.

     Na literatura rabínica, segundo nossa história, aconteceram, neste período, fatos que marcaram nosso povo. Consideramos essa época como o início da introspecção até o Dia de Yom Kipur, quando o Criador julga os atos dos homens.

     Os fatos deste conto mostram atitudes opostas. Quem vai ao rabino com o coração pesaroso e seus grandes pecados, mas com vontade de redimir-se, de assumir punições merecidas, de fazer teshuvá, encontrará o mais profundo desejo de retomar o bem.

     O arrependimento é uma mudança de atitude e exige uma mudança de conduta.

     Que, com o arrependimento de nossos pecados, encontremos o caminho para que o Criador permita que tenhamos nossos nomes inscritos no Livro da Vida..

 
     “O arrependimento prolonga a vida do Homem.”

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

APERTADO E BARULHENTO

      Um homem muito pobre vai até o rabino pedir um conselho e relata que não aguenta mais as condições na qual sua família vive. Com dez filhos, morando em um pequeno casebre composto de um único cômodo, o homem fala de seu desespero ao ter crianças por todo lado e viver sem nenhum espaço. . O rabino ouve silenciosamente todas as mazelas do homem e, então, pergunta:
     - “Acaso vocês possuem um vaca?”
     - “Vaca?”, perguntou o homem, não compreendendo a conexão. - “Sim, dispomos de uma vaca leiteira que nos supre de leite e derivados!”
     “Muito bem. Isso é o que você vai fazer...”, disse o rabino resoluto. - “Pegue a vaca e coloque-a para dentro da casa. Faça isso pelo período de uma semana e, então, retorne.”
      Incrédulo, o homem obedeceu. Passada a semana, ele retornou ainda mais desesperado.
      O rabino perguntou:
     -  “Como está tudo?
     -”Tudo que me faltava era aquela vaca fazendo necessidades na casa e ocupando o pouco espaço que tanto disputávamos.”
     - “Muito bem. Pois tire a vaca de agora em diante e retorne em uma semana.” -disse o rabino, em tom sábio.
 Finda a semana, o homem aparece com ar irreconhecível. Estava descansado e eufórico. O rabino perguntou:  
     - “Como anda tudo?”
     - “Nunca esteve tão bem. Desde o dia em que aquela vaca saiu de nossa casa a vida mudou. Temos lugar para todos e descobrimos quão espaçosa é nossa casa!”



     Este conto nos mostra o quanto é difícil aceitar as adversidades que a vida nos apresenta.
     Ao buscarmos na ilusão dos sentidos uma realidade que criamos como nossa, deformamos a interpretação de atos e atitudes, confundindo o que somos com o que desejamos.
     Almejando o que não está ao nosso alcance, ambicionando o que não conquistamos, perdemos a conexão com o que construímos com nosso esforço e que por direito nos pertence. Deixamos que a percepção do “bem maior” se transforme no desespero do “não ter.”
     Na resolução dos problemas e nas situações que vivemos, nem sempre encontramos solução. A resposta é tão óbvia, que não a percebemos sem uma sábia ajuda.
     Colocando mais um problema na vida do homem e retirando-o após algum tempo, temos a sensação que a solução era tão simples que, à dificuldade, dávamos uma falsa dimensão. Precisamos de algo externo para dar valor ao que temos, reconhecendo que recebemos tudo o que necessitamos e que é necessário olhar à nossa volta e agradecer cada bem recebido, as muitas coisas que nos fazem ter motivo de viver. O resto não passa de pura ilusão.
      “As ilusões enlouquecem os homens.”

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A ESCURIDÃO

     Um homem estava agachado no chão procurando algo. Um amigo se aproximou e, vendo aquela situação, perguntou:
     -Você perdeu algo?
     -Sim, perdi uma chave e não consigo encontrar - respondeu o homem.
     O amigo de imediato se pôs a ajudar na procura. Após vasculhar uma região considerável à sua volta, o amigo perguntou, frustrado:
      -Tem certeza que você perdeu a chave neste lugar?
      -Aqui? Não...não foi aqui que eu perdi. Eu a perdi lá! – disse, apontando para um lugar distante.
      Indignado, o amigo reclamou:
       - E por que você está procurando aqui, se você perdeu lá?
      - Ah... é porque aqui está claro e dá para procurar... Lá está muito escuro!



       Na escuridão, sentimentos e temores criam forma, buscando uma fuga para o desconhecido. E o medo do desconhecido nos leva a libertar uma realidade, que, dependendo da forma como se manipula a imaginação, o mundo será qualquer coisa que desejemos ou precisemos que seja.
      Se conseguirmos enfrentar e tomar decisões para não nos perdermos nele, encontraremos a nossa própria luz, conciliando contradições e fazendo com que pensamentos deixem de ser pensamentos, vendo tanto dentro quanto fora de nós mesmos.
      Esse recurso interior é a busca para encontrarmos nossa individualidade e chegarmos à nossa verdadeira luz.
      É dessa dualidade de escuridão e luz, nessa projeção de desejo e necessidade, que tiramos a capacidade de sobreviver à nossa criação.
      “Como o mundo é claro e belo, quando não nos perdemos nele, e como é escuro o mundo, quando nos perdemos nele."

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A PEDRA PRECIOSA

      Um rapaz do interior foi para a cidade grande trabalhar numa fábrica. Quando conseguiu juntar algum dinheiro, comprou roupas novas, sapatos novos e até um anel de ouro com uma pedra preciosa. E voltou para a sua aldeia a fim de  exibir seu sucesso.
     Chegando à aldeia, foi logo cercado por amigos e conhecidos, ansiosos em saber notícias da cidade. Ele contou sobre as lojas, as roupas, as joias e sobre todas as maravilhas que se pode comprar.
     - Meu filho, que utilidade tem essa pedra? - perguntou um sábio.
     - Utilidade? Para quê? Ela só é bonita. Isso não é suficiente?
     - Eu conheço outra pedra preciosa que, ao mesmo tempo, é útil. Venha, eu lhe mostro.
     - Eu quero ver - disse o rapaz duvidando que naquela aldeia pobre pudesse haver tal pedra.
      O sábio levou-o até o moinho e mostrou a mó – a pedra do moinho. Com ela moía o trigo e o milho e com isso alimentava a população do lugar.
      - Estas são pedras preciosas, não por serem bonitas somente, mas por serem úteis.


        Diz um provérbio judaico em sua total sabedoria: ”Não há melhor negócio que a vida. A gente a obtém em troca de nada”.
        Ao valorizarmos o vazio, esquecemos das coisas simples que recebemos do Criador e nos deixamos levar pelo supérfluo.
        Quando nos descaracterizamos de nós mesmos, deixamos de ver o que é visto: o que está dentro do “olhar”.
        As ilusões nos tornam cegos diante do que é evidente “não há antes e não há depois”, o que há é a busca da nossa sobrevivência, da nossa fé e da nossa esperança.
       Na busca do brilho que ofusca, da inutilidade do belo que nada produz, da ilusão que nos faz buscar o que se pode comprar sem que se traduza no bem comum, perdemos a dimensão do oculto, o que nos faz crescer espiritualmente, fazendo com que não tenhamos controle sobre o que vemos no nosso interior.
        E nessa troca do NADA recebemos – TUDO

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A LANTERNA

          Conta-se que um homem se perdeu numa  floresta. Buscou de todas as formas uma saída, mas não a encontrava. Ao anoitecer, quando estava prestes a se desesperar, viu ao longe uma luz. Logo pôde distinguir que se tratava de um homem com uma lanterna. Ficou radiante, certo de que estava salvo.       Aproximou-se dizendo:
         - Estava perdido, mas pela graça dos céus encontrei-o! O homem da lanterna respondeu com ar pesaroso:
         -Eu sinto muito... eu também estou perdido! Mas não se desespere. Você sabe por onde buscou a saída e eu sei por onde tentei. Juntos  temos mais chances de encontrarmos o caminho!
         Enquanto buscava se consolar, viu que o homem da lanterna tinha os olhos fechados. Exclamou: -Você é cego!
        -Sim, respondeu.
        -Mas, então, por que você precisa de uma lanterna?
        -Ah... a lanterna não é para mim... não é para que eu veja, mas para que os outros me vejam!
  
        A luz que os olhos nos permitem ver, nem sempre é a que deixa com que enxerguemos nossa alma. E é nesse interior que permitimos nos perder ou descobrir o caminho que projetamos encontrar.
        A forma com que visualizamos, em nossa mente, a noção da claridade interna nos faz enxergar o que não queremos ver.
        Da escuridão, o Criador nos deu a vida e, dessa dualidade surgiu o claro e o escuro, a certeza e a incerteza do que acontece e do que poderá acontecer. Nos caminhos que traçamos seguir, muitos obstáculos farão com que ocultemos o visível e, deixemos de iluminar a trilha a percorrer nos perdendo na falta de objetivos precisos do que queremos encontrar e, assim... perdemos-nos de nós mesmos.
         E, é neste lugar que D’us, que tudo vê, permite, nos vermos em nossa essência, na condição de quem é visto, mas não se vê.
        Encontramos nosso caminho ao iluminarmos nossas vidas, não com a visão dos olhos e sim com a visão da alma.
       “A luz é especialmente apreciada após a escuridão.”

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O CHORO

     Uma menina começou a chorar sem explicação. No início, seus pais não deram muita atenção, mas passaram-se horas e até um dia inteiro sem que ela parasse de chorar. Um médico foi chamado e não conseguiu acalmá-la.

     Temendo por sua saúde, os pais apelaram para um rabino. O rabino foi trazido até o local onde estava a menina, aproximando-se dela, delicadamente sussurrou algo em seu ouvido. A partir dali o choro da menina foi cedendo; ela soluçava de forma cada vez mais espaçada até que finalmente parou de chorar.

     Passaram-se muitos anos sem que ninguém soubesse o que o rabino havia sussurrado ao pé do ouvido da menina. Foi só em seu leito de morte que ela revelou as palavras ditas pelo rabino naquela ocasião. E foi o que ele lhe disse: “Chora, pode chorar. Mas chore apenas o que lhe dói, nem mais nem menos, apenas o quanto dói.”


      Poucas vezes tomamos consciência que todos os fatos na vida são passageiros e que os momentos devem ser vividos e sentidos na hora imediata que ocorre.
      Neste conto, vemos o sentimento de tristeza se instalar numa busca em nossa memória afetiva de todos os maus acontecidos, aumentando a intensidade desenfreada do antes, do agora e talvez do depois.
      A tristeza, em si, pode ser um momento de reflexão resultante de algum tipo de emoção do atual momento de nossa vida. Deixar brotar este sentimento, vivê-lo profundamente sem sublimá-lo e, então, esgotar toda capacidade de concentrar o que nos machuca, através do choro, alivia a ansiedade e a angústia.
      A natureza humana preserva pensamentos ou reflexões de felicidade ou tristeza, fazendo um paradoxo entre elas, associando estímulo emotivo que já temos guardado gerando reações como o riso exagerado ou o choro compulsivo. Acumular tristezas é um passo para a depressão, então, o choro no momento certo é a maneira mais límpida de revelarmos nosso interior.
      Na verdade, nada nos é dado sem que tenhamos força para suportar e, que cada momento vivido é um ato de fé no Criador, que não exige a perda de nossa integridade.
 No Talmude há um dito que expressa esse sentimento: “Não se decretam leis ou éditos que não possam ser cumpridos.”

domingo, 21 de agosto de 2011

MEU PRÓPRIO FILHO

        Reuven era um comerciante que certo dia abriu uma joalheria.Logo os negócios começaram a dar certo, e ele decidiu chamar seu filho único para ajudar a tomar conta da loja.
     Os negócios aumentaram e Reuven resolveu contratar um estranho para ajudá-lo nas vendas.
     Com o passar do tempo, Reuven começou a perceber que, no final do expediente, ao fazer o balanço diário, faltava um pouco de dinheiro no caixa da loja.
     Após alguns cálculos, ficou óbvio para o comerciante que um de seus funcionários agia de forma desonesta.
     O homem foi muito paciente e conversou com os funcionários, deixando claro que poderia ajudá-los se estivessem passando por dificuldades. Ninguém se acusou e o dinheiro continuou desaparecendo.
     Sem alternativa, certo dia, no final do expediente, o comerciante resolveu verificar os bolsos do estranho e de seu filho quando saíam da loja. Nesse dia, constatou que o estranho roubava seu dinheiro. Pior do que isso, comprovou que seu filho também o roubava. Imediatamente ele resolveu demitir o estranho. Pagou seu salário, mais uma indenização por demiti-lo, ainda deu-lhe um presente e mandou-o embora. Quanto ao seu filho, Reuven levou-o para um quarto e deu-lhe uma boa bronca. Aplicou uma longa lição de moral e deixou-o de castigo sem qualquer remuneração.
     Antes de o pai sair do quarto, o filho resolveu questionar sua atitude. Como seu pai podia cometer tamanha injustiça? Enquanto o estranho recebera seu salário, uma indenização e mais um presente, seu filho único fora castigado e ficara sem qualquer remuneração!...
     Percebendo a ingenuidade do filho, o pai voltou-se para ele e explicou sua atitude:
     -Aquele estranho, eu não quero ver nunca mais. Não me importo com ele. Mas você, meu único filho, permanecerá sempre ao meu lado. Por isso, eu preciso tomar atitudes que o eduquem e corrijam seus vícios.
  


      O que nós adultos, queremos para nossos filhos?
     Quais são nossos valores?
     É importante saber aonde se quer chegar.
     “Quando um pai se lamenta que seu filho segue pelo caminho do mal, o que fazer? Amá-lo mais que nunca.”
     Há diferentes formas de se cuidar e nossa sociedade passa por uma crise de limites.
     O limite tem um caráter controlador e organiza na mente das pessoas o poder de discernir o que é ou não correto, construindo bases sólidas de sua relação com o mundo.
     Algumas pessoas acham que um pouco de desonestidade nas suas vidas é um meio fácil de ter êxito. O ensinamento Divino “Não furtarás”, “Não Mentirás”, “Não dirás falso testemunho contra teu próximo” devem nortear a qualidade dos valores que queremos para nossos filhos, para que percebam que há permissões, proibições, aplausos e limites.
     “Aquele que perde a sua honestidade já não tem mais nada  a perder.”
     Neste conto, a atitude “incoerente” do pai, demonstra que ama o filho, preservando sua ética, honestidade, respeito e assegurando que tudo o que vier a construir será duradouro.
     Quanto ao estranho, a vida se encarregará de educá-lo ou não, mostrando-lhe que, cedo ou tarde, o que for mal conquistado, perder-se-á.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O RICO E O SÁBIO

     Um sábio muito pobre chegou a uma cidade e lá soube que havia um rico que recebia a todos muito bem. Foi à casa dele e teve a surpresa desagradável de não ser recebido, pois suas roupas estavam velhas e rasgadas.
     No dia seguinte conseguiu roupas boas, novas e voltou à casa do rico. Dessa vez foi bem  recebido, com todo o respeito e honras. Convidado a comer com a família começou a colocar comida nos bolsos.
     - O que é isso, meu amigo? Não precisa guardar no bolso. Há bastante comida.
     - Eu não estou guardando nos bolsos para depois. Eu estou dando de comer para a roupa, pois que por ela eu entrei aqui. Ontem, quando eu vim com roupa velha e rota, vocês não me receberam e nem uma migalha de pão me deram. O que eu recebo hoje devo a minha roupa e não a minha pessoa.
     O rico abaixou a cabeça e cobriu o rosto de vergonha.


    No mundo do “aparente” em que vivemos, a essência de cada um tornou-se algo dispensável e o que se produz, buscando a beleza externa, ultrapassou a fronteira do que realmente tem significado para uma vida repleta de sentimentos éticos e de uma boa conduta moral.
   Temos o propósito de aperfeiçoar nossa imagem no lugar de nós mesmos,  produzindo apenas a sombra do que somos. Nada do que parece diz como as coisas são em si: são assim as grandezas aparentes.
   O que nutre nosso ego nos leva a quebrar regras e a valorizar o vazio dos valores – a ilusão da beleza do que parece ser.
   É necessária uma reformulação do “aparente” em que o “ser” é mais importante do que o “parecer”.
   A vestimenta que aparentamos usar faz com que esqueçamos palavras tão singelas: “Se pensares em toda beleza que ainda deixaram a tua volta, já tens motivos para te sentires feliz.” (Anne Frank)


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O MENINO CARIDOSO

       Era uma vez um menino muito pobre. No seu aniversário ganhou uma moeda. Ele guardava-a no seu bolso pensando no melhor emprego que daria a ela. Ele queria comprar um brinquedinho, pois não tinha nenhum. Mas não se decidia porque tinha medo de que, se um dia não tivesse o que comer, poderia comprar pelo menos um pãozinho e não ficaria com fome. E assim, a moeda ainda estava em seu bolso.
    Uma tarde, passando pela rua viu outro menino. Este trazia uma gaiola com um passarinho que havia aprisionado. O passarinho ia triste e encolhido. Aproximou-se do menino e propôs comprar a avezinha. Feita a compra, ele abriu a janelinha da gaiola e soltou o passarinho.





     Cada um tem seu modo de pensar, agir, usar ou não aquilo que recebe do Divino e, que com seu livre arbítrio, aprimora em ações ou rejeita em atitudes.
     Confrontamo-nos com situações e ações que podem resultar em atos de vandalismo ou de extrema bondade, que nos torna caridosos ao respeitar o outro como um ser liberto de amarras criadas pelas mãos de seu próprio semelhante.
     A bondade, quando baseada no respeito de ser, ter e dar, leva-nos ao confronto entre os ensinamentos que procuram nos passar na infância, na busca de que os internalizemos ou não, sentindo o absurdo desse investimento na vida
    Saber valorizar o que possuímos, respeitando o lúdico das nossas crianças, que buscam o mais caridoso saber, lidando de diferentes formas, mostrando ao mundo compreender e respeitar as palavras de uma adolescente que, numa época tão dolorosa para nós, encontrava meios de amar e com toda sua dor deixou-nos a mensagem “Apesar de tudo eu ainda creio na bondade humana.” (Anne  Frank )
     Na comparação entre as duas crianças do conto, as metáforas se apresentam como aquele que aprisiona e aquele que dá o pouco que tem a fim de trazer o sonho da liberdade aos que estão aprisionados pelas correntes da maldade humana.
     “A verdadeira caridade é praticada em segredo. O melhor tipo de caridade é aquela em que quem a faz ignora quem a recebe, e quem a recebe ignora quem a faz.”

terça-feira, 26 de julho de 2011

O principal da vida

     Conta a lenda, que certa mulher pobre com uma criança no colo, passando diante de uma caverna, escutou uma voz misteriosa que lá dentro lhe dizia:
    “Entre e apanhe tudo o que você desejar, mas não se esqueça do principal. Lembre-se, porém, de uma coisa: depois que você sair a porta se fechará para sempre. Portanto, aproveite a oportunidade e não se esqueça do principal.”
    A mulher entrou na caverna e encontrou muitas riquezas. Fascinada pelo ouro e pelas joias. Pôs a criança no chão e começou a juntar, ansiosamente, tudo o que podia no seu avental.
    A voz misteriosa falou novamente: “Você só tem oito minutos.”
    Esgotados os oito minutos, a mulher, carregada de ouro e pedras preciosas, correu para fora da caverna e a porta se fechou...
    Lembrou-se, então, que a criança ficara lá e a porta estava fechada para sempre!



    A mudança pela qual passamos na vida, sob vários pontos de vista, nos faz trilhar caminhos explorando as fronteiras da opção.
    Almejamos e buscamos mudar nossa realidade, nosso pensar, buscando uma segurança que, na maioria das vezes, está ao nosso lado.
     Essa busca, em extrema situação de pobreza, leva-nos a escolher caminhos adversos à nossa moral, perdendo os valores indispensáveis para encontrarmos nossa felicidade.
     Temos nossos sonhos e objetivos que, ao procurarmos construir os alicerces da nossa vida, deixamos que a tentação nos leve à ambição e à ganância.
     A ambição faz, mesmo numa forma inconsciente, com que ganhemos bens materiais e perdas, como pessoas amadas e a essência do nosso próprio futuro.
     Questionar esse comportamento, buscar dentro de nós uma forma ética de alcançar nossos objetivos, abandonando a oportunidade de ser mais ou ter mais, nos traz o sentido da justiça, do amor e da paz.
     O convite, simbolicamente, nos leva à busca do portão que irá se abrir por um breve momento, proporcionando-nos o que queremos possuir.  Qual será o bem maior?
     A sabedoria de discernir entre o certo e o errado é a descoberta de que felicidade não se compra e que a riqueza não é medida por um punhado de ouro, e sim pela capacidade de amar o próximo, sem prejudicar a nenhum de nossos semelhantes.
     “O que torna uma resolução tão difícil é não sabermos o que queremos e o quanto queremos.”

terça-feira, 19 de julho de 2011

EU

        Conta-se que um discípulo bateu à porta de um rabino, tarde da noite. Este perguntou:- Quem é?
      O discípulo respondeu:- Sou eu.
      O rabino não abriu a porta. O discípulo voltou a bater e o rabino repetiu a pergunta. O discípulo novamente respondeu:
     - Sou eu, mestre.
     Novamente silêncio. Depois de repetidas vezes, o discípulo calou-se.
     Então, o rabino abriu a porta e fez o seguinte comentário: -
    Toda vez que você respondia usando a palavra “eu”’, não havia ninguém lá fora, só ilusão. Ninguém, além do Eterno, pode usar a palavra “eu” sem ser pura ilusão.
   
     “E D’us criou o homem à Sua própria imagem.”
     Uma vez que o Eterno não tem forma ou imagem, a Torá nos diz que fomos criados à imagem espiritual de D’us, que nos deu o dom da fala, dotando-nos do livre arbítrio, razão, moralidade e a intenção de imitá-lo.
     A imitação não nos leva a igualar nossas imperfeições à perfeição do Sagrado.
     Sem essa perfeição, o homem perante o Universo  é um ser que, na primeira tentação apresentada, transgrediu a imagem que fazia de si, tornando-se apenas uma partícula da criação Divina.
     A sabedoria da fala nos leva à consciência dos objetivos de nossas vidas, aperfeiçoando nosso caráter, tornando-nos pessoas melhores.
     Por mais que nos esforcemos nessa perfeição, temos que  reconhecer que o nosso eu jamais nos levará à comparação do  “eu” Divino, que é Sagrado e Único.

terça-feira, 12 de julho de 2011

O PAI E SEUS FILHOS

    Era uma família onde todos os filhos, brigavam entre si. Não havia bom relacionamento entre eles. O pai sofria muito com esta situação, pois, como todo pai, queria o melhor para seus filhos.
     Um dia, cansado de tanto pedir e tentar ensinar, o pai resolveu tentar de outra forma. Pegou um feixe de varetas, uma corda e chamou os filhos.
      _ Vocês estão vendo estas varetas? Vou juntá-las e amarrá-las com esta corda. Agora, você, meu filho mais velho, quebre as varetas.
     O filho mais velho tentou, mas não conseguiu.
      - Você, meu segundo filho, veja se consegue quebrar as varetas.
     O segundo filho se esforçou, mas não conseguiu.
     - É a sua vez, meu filho caçula, tente e veja se consegue.
     O filho caçula usou toda sua força, mas nem assim conseguiu.
     O pai desamarrou o feixe, e as varetas se espalharam.
     - Quebrem agora as varetas, ordenou o pai.
     Com facilidade e rindo, os filhos quebraram as varetas.
     -Agora foi fácil, não foi? Vocês, meus filhos são como estas varetas. Separados qualquer um conseguirá quebrar vocês. Juntos, amarrados pelos laços da união e da amizade, ninguém vencerá vocês...
                                                                                  
      Se nós vivermos com o senso dos valores judaicos, deixando que essa regra determine nosso estilo de vida, cumprindo com perfeição o mandamento de amor e respeito ao próximo, principalmente a nossos pais e irmãos, buscando o benefício e o bem estar de todos, estaremos nos esforçando para alcançar o crescimento espiritual e moral e com isso encontrar o sagrado inerente a cada um de nós, para num só pensamento unirmos forças e vencer todos os obstáculos que a vida nos apresenta.
       O grande Rabino Baal Shem Tov Z L construiu uma metáfora, que traduz esse conto: ”Sozinha uma letra não tem significado, mas se você junta essas letras, você cria um parágrafo”. Torá é Vida.



A CARTEIRA

    Um homem pobre achou uma carteira com mil rublos.
     No dia seguinte, quando foi à sinagoga, ouviu que o banqueiro Yossel tinha perdido uma carteira com mil rublos e prometeu uma recompensa de cinquenta rublos a quem achasse e lhe devolvesse.
     Depois do serviço, ele foi rapidamente à casa do Yossel, bateu na porta e quando este abriu, ele entregou a carteira com os 1000 rublos.
     Yossel pegou a carteira, contou o dinheiro e disse: - “Vejo que você já pegou a recompensa. Tinha mil e cinquenta rublos na carteira e agora só tem mil.”
     “Mas isso não é verdade”, protestou o pobre homem. “Só tinha 1.000 rublos aqui.        Você me deve cinquenta rublos de recompensa.” Os dois discutiram e no final concordaram em ir ao rabino para julgar o caso.
     Os dois apresentaram o caso ao rabino. O pobre homem reclamou que tinha 1.000 rublos na carteira e que Yossel lhe devia 50 rublos de recompensa por ter devolvido a carteira.
     Mas Yossel, o banqueiro, dizia que tinha 1.050 rublos na carteira e que não devia nada.
     “Rabino, o senhor precisa acreditar em mim,” acrescentou, o homem rico.
     “Certamente acredito no senhor,” respondeu o rabino. Agora, o homem rico estava cheio de sorrisos, enquanto o pobre homem estava devastado.
      Então, o rabino pegou a carteira e deu ao pobre homem. “É seu. Pode ficar com você!”
     “O que o senhor está fazendo,” protestou o homem rico, com raiva. “O senhor não acredita em mim, rabino?”
     “Certamente acredito em você. Você falou que era honesto e acredito em você.    Acredito que tivesse 1.050 rublos em sua carteira. No entanto, devo acreditar que o pobre homem aqui também seja um homem honesto, pois lhe devolveu a carteira. Se ele fosse desonesto, teria ficado com a carteira inteira com todo o dinheiro. Agora que sei que vocês dois são pessoas honestas, tenho que acreditar que a carteira em questão não é a que você perdeu e deve ser de outra pessoa. “Então, até que o dono de verdade apareça, a carteira ficará com ele.”
     “Mas e o meu dinheiro?”  perguntou o homem rico.
     “Ora, você terá somente que esperar até que alguém ache uma carteira com exatamente 1.050 rublos e lhe devolva!”
    A honestidade é um dos preceitos que nos foi ofertado por D’us. Ele nos presenteou também com o livre arbítrio. Temos a opção de sermos ou não honestos. Sabemos também que o “olho Divino” estará sempre observando e julgando nosso comportamento e atos.

    Neste conto, encontramos a diversidade de comportamentos representada pelo homem pobre e honesto e o homem rico e ganancioso. Vemo-nos diante de situações reais onde quem mais tem, em geral, procura obter mais usando artifícios condenados por nossas leis morais.

    O tirar proveito usando a mentira, o denegrir a moral do outro, o tirar vantagem de quem pouco tem são colocados em evidência e levados à frente de um rabino, para que a luz de sábio dom dê o veredicto do certo ou errado.

    Ao ouvir a história, contada na versão de cada um, usa de toda sua sabedoria, sem procurar ferir com palavras, mas usando fatos, conclui que a carteira não cabe ao homem rico, que diz possuir quantia maior que a encontrada para não cumprir com o combinado.

    O rabino diz acreditar que, não correspondendo ao valor dito, a carteira não pode ser dele, e como não tem dono, o pobre homem pode ficar com ela.

    Por tão pouco, por sua ganância, a tudo perdeu.

    Mais importante do que aquilo que alguém mostra é o que o outro enxerga.

    “Se D’us criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?”

domingo, 10 de julho de 2011

Um filho

    Três mulheres conversando ao lado de um poço. Um velho as escutava.
    A primeira mulher dizia: - Meu filho é muito forte, corre e pula.
    A segunda dizia: - O meu filho canta como os passarinhos.
    A terceira mulher nada dizia, então o velho perguntou: -Você não tem filhos?
    Ela respondeu: - Tenho, mas ele é um menino normal como todas as crianças.
   As três mulheres pegaram seus potes cheios de água e foram caminhando. No meio do caminho, elas pararam para descansar e o velho homem sentou ao lado delas.
    Logo elas viram seus filhos voltando para perto delas. O primeiro vinha correndo e pulando, o segundo vinha cantando lindas canções. O terceiro não vinha pulando nem cantando, ele correu em direção a sua mãe e pegou o pote cheio de água e levou para casa.
    Então as três mulheres perguntaram para o velho homem: - O que o senhor achou dos nossos filhos?
    E o velho homem respondeu: - Realmente, eu acabei de ver três meninos, mas vi apenas um filho.

    Seguindo Maimônides, é mais importante pensar sobre qual condutas devemos adotar para que nos tornemos seres humanos melhores, do que perder tempo com coisas que não trarão benefício para o nosso desenvolvimento pessoal. O verdadeiro valor ético e moral é aquele que preserva e respeita pai e mãe, que ama o próximo como a si mesmo, fazendo o bem a quem dele precisa.  É preciso que nossos filhos recebam bons exemplos para que possam transmitir aos seus filhos e por todas as gerações.
    Neste Yom Kipur tivemos a bênção de, junto com o Shabat e o toque do Shofar, receber um Ano especialmente sagrado. E obedecendo aos ensinamentos da Torá, pedir proteção para que nos sintamos mais fortes, sabendo nos conhecer e ao próximo. Que possamos fazer uma reflexão de nossos atos desejando liberdade, solidariedade e muito amor.




Três Eliahus num Seder

    Na véspera de Pessach, Eliahu completou seis anos e já sabia o Má Nishtaná. No Seder, seu pai lia a Hagadá e chegando à passagem “Shooh Chamatchá”, disse a seu filho:
    - Eliahu, abra a porta para Eliahu Hanavi. Eliahu abriu a porta e viu um senhor encurvado aproximando-se. Eliahu chamou-o:
    - Venha Eliahu Hanavi. Bem-vindo seja.
    O senhor respondeu:
    -Eu não sou Eliahu Hanavi, apesar de que também me chamo Eliahu.  Eu sou Eliahu, o pobre. Sou sozinho no mundo, não tenho família e  até agora não encontrei onde passar o Seder. Quem sabe seus pais  me convidam?
    Os pais ouviram a conversa dos dois e disseram:
    -Venha, visitante, passe o Seder conosco. Seja bem-vindo.
    Eliahu achou engraçado e disse:
    - Agora nós somos três Eliahus à mesa:
    Eliahu - o visitante
    Eliahu - o menino
   Eliahu Hanavi -o invisível.



    Esse pequeno conto nos lembra a proximidade de uma das maiores festividades da Tradição Judaica – o Êxodo do Egito, onde Moisés lidera seu povo, levando-o da escravidão para a liberdade.
     “Em todas as gerações cumpre-nos relatar a saída do Egito e a busca da Liberdade e discutir seu significado, a fim de assumirmos, plenamente, a nossa missão de indivíduos atuantes e responsáveis”.
Conta o Midrash que, na hora da travessia do Mar Vermelho, quando tropas egípcias se afogavam na perseguição aos hebreus, os anjos romperam em gritos de alegria, quando o Eterno mandou que se calassem ao dizer “minhas criatura se afogam no mar e vocês entoam cantos”.
     Essas palavras, transportadas para nossos dias, levam-nos a refletir e lembrar o valor e o respeito a cada vida humana.
     A leitura da Hagadá nos passa a mensagem de que se aproxima a era da justiça e da paz com a vinda do Messias. Para isso é necessário eliminar a fermentação de sentimentos nocivos, que alimentamos dentro de nós, como o orgulho, o ódio, a injustiça, a inveja, e tudo que nos prende, nos acorrenta, nos deixa “escravos”. É importante questionarmos o sentido da vida para que tenhamos, plenamente, a consciência da liberdade na qual vivemos, assumindo a responsabilidade que cada um tem pelo seu semelhante.

A noz dourada

    Aconteceu em véspera de Pessach.
    Todos vestiam roupas e sapatos novos, menos dois irmãos: Gadi e Tali. Eles estavam tristes por não terem uma roupa nova, pois o pai era muito pobre e a mãe encontrava-se adoentada.
     De repente apareceu um senhor de barba branca, rosto brilhando de bondade, e perguntou: - Por que vocês estão escondidos num canto?
    -Como podemos aparecer, se nossas roupas são velhas, nossos sapatos furados e nem mesmo temos nozes?
     O senhor olhou penalizado para as crianças, tirou do bolso uma noz e deu a eles:- Olhem o que achei no bolso. Peguem e brinquem. Eu não quero ver ninguém triste. E se foi.
     Os meninos olharam assombrados para a noz que era de ouro. Muito alegres passavam de mão em mão até que a noz caiu no chão e começou a rolar e ir para bem longe. Os meninos correram atrás dela até chegar a uma casinha. Bateram à porta e, como não havia ninguém, entraram. Na sala havia uma mesa cheia de roupas.   As crianças vestiram as roupas e muito alegres pegaram um cartão e escreveram: muito obrigado!
     Estava na hora de voltar e eles perceberam que tinham esquecido o caminho. Nesse momento a noz caiu no chão e começou a rolar levando os meninos de volta para casa.
     Chegaram, abraçaram seus pais que lhes perguntaram: - Onde vocês estiveram? Onde arrumaram roupas tão lindas?
     Gadi e Tali contaram sobre o simpático senhor, sobre a noz e os presentes.
     Os pais sorriram e disseram:- Só pode ter sido Eliahu Hanavi
    No decorrer das dez pragas, o Eterno revelou seu controle absoluto, mudando o curso das leis da Natureza atingindo as esferas de sua Criação - a Terra, a Atmosfera e os Céus.
     Através e apesar delas o homem aprendeu que sua sobrevivência depende do meio no qual vive, preservando, cultivando e respeitando os ciclos naturais do Universo.
     Celebrando Pessach, transponho-me e realizo um paralelo dos tempos marcantes de Moshé para os atuais c  om o surgimento de um novo olhar, mostrando-nos que não só o Homem como a Natureza sofreram e sofrem a ação divina com o derramar do sangue de milhões e milhões que morrem através de guerras e conflitos. O SER HUMANO ESQUECEU DE AMAR O PRÓXIMO.
    A corrupção, a maldade e a inveja criam energias negativas que se voltam contra o próprio criador.
    É importante que, ao lermos a Hagadá, nos responsabilizemos por todos os nossos atos manifestando uma ligação eterna com D’us, seguindo o caminho da bondade e da justiça, harmonizando nossas energias por um bem maior, canalizando bênçãos para que tanto nós como a Natureza convivamos em Paz para a preservação de todos

Pessach- Expressão máxima da liberdade

     Os seres humanos nasceram para serem livres, significando que somos responsáveis pelo que fazemos ou deixamos de fazer.

    Pela primeira vez na História da Humanidade, assinalado pelo nascimento do povo de Israel , culminado pelo Êxodo de nosso povo do Egito, foi legitimado o sentimento de LIBERDADE e a conquista e observância dos “Direitos Humanos”

    Pessach tem o significado de reflexão, levando-nos a questionar todos os atos de nossa existência e, durante seu festejo, devemos nos imbuir que não estamos no limiar da chegada, que passamos por uma travessia, lembrando sempre nossos irmãos que, sob o comando de Moshé, transformaram-nos de escravos em Homens Livres.

    Em nome dessa tão almejada Liberdade não podemos esquecer o legado de deveres que devem nortear nossos dias.

    A soberba, a imposição, a falta de respeito às diferenças, o julgamento pré-concebido, o autoritarismo, a falta de amor ao próximo e a imposição do poder econômico e político, devem ser combatidos nos livrando de uma escravidão individual ou coletiva.

    A liberdade de expressão é a força maior para que sintamos, realmente, o sentido da Liberdade e, desta forma, junto com nossas famílias e toda a Humanidade, brindemos.

terça-feira, 5 de julho de 2011

O RABINO

     Conta-se que certa vez um rabino juntou-se a um grupo que admirava os feitos de um equilibrista circense. Os discípulos admiraram-se ao vê-lo em situação tão mundana e o questionaram. O rabino, então, perguntou:
     ‘Vocês sabem como ele consegue?’ - e sem esperar resposta, continuou:
     ‘ Regra número um: em nenhum momento desviar sua atenção para o chapéu no qual lhe depositam dinheiro em reconhecimento. Se perder a concentração no que está fazendo, cai imediatamente. Regra número dois: não prestar atenção no próximo passo, mas mirar em direção ao mastro no final da corda. O objetivo é que permite o equilíbrio e oferece estabilidade para o próximo passo. Mas qual é o momento mais difícil e mais importante de sua tarefa?’
     Os discípulos se entreolharam confusos. Ele respondeu: ‘É o momento em que chega ao final da corda e tem que dar meia volta. Nesse momento, ele fica sem o mastro como referência. Aí, ele depende de um centro que ficou interiorizado nele.”

    Os conselhos práticos para a vida cotidiana trazem a sabedoria popular de nossa cultura. São receitas sobre a conduta humana de como viver ou morrer, tendo como ponto máximo as consequências desta fé.
   É necessário ter objetivos para encontrar o caminho para a sabedoria, que floresce e amadurece somente com o tempo.
 Uma percepção balanceada das consequências passíveis de decisões e ações faz com que se desenvolva o senso da confiança.
     Quando resolvemos tomar decisões, devemos nos focar em atingir a finalidade proposta contando com uma referência palpável eliminando a sensação do medo, da perda e da derrota.
     Segundo Baal Shem Tov: “Nas coisas mundanas não pode haver medo quando existe alegria e também não pode haver alegria quando existe medo. No que diz ao Sagrado, no entanto, onde há temor sempre se encontrará júbilo e vice-versa.”
     A fé em D’us é a certeza de ter sempre no que se segurar lá em cima.
     “Creio no sol, inclusive quando não brilha.
      Creio no amor, ainda que nem sempre o sinta.
      Creio em D’us, ainda que também Ele esteja em silêncio.”

O PODER DA LÍNGUA



    Certa vez, um homem tanto falou que seu vizinho era ladrão, que o vizinho acabou sendo preso. Algum tempo depois, descobriram que o rapaz era inocente, ele foi solto e, após muita humilhação, resolveu processar seu vizinho (o caluniador).
     No tribunal, o caluniador disse ao juiz:
     - Comentários não causam tanto mal.
    E o juiz respondeu:
     - Escreva os comentários que você fez sobre ele nesse papel, depois pique o papel e jogue os pedaços pelo caminho de casa e amanhã volte para ouvir a sentença!
     O homem obedeceu e voltou no dia seguinte, quando o juiz disse:
     - Antes da sentença, terá que catar os pedaços de papel que espalhou ontem!
     - Não posso fazer isso, meritíssimo! – respondeu o homem – o vento deve tê-los espalhado por tudo quanto é lugar e já não sei onde estão!
 Ao que o juiz respondeu:
      - Da mesma maneira, um simples comentário que pode destruir a honra de um homem, espalha-se a ponto de não podermos consertar o mal causado; se não se pode falar bem de uma pessoa, é melhor que não se diga nada!


     Diz o Talmude: “Quem faz uma injúria e a repete, começa a crer ser isto permitido.”
     A sabedoria popular faz com que nosso pensamento acabe derrubando os preconceitos e as contradições das verdades de cada um.
     Encontramos no ser humano pensamentos, éticos ou não, que nos fazem chegar a um dos mandamentos Divinos: “Não levantarás falso testemunho.”
    Os contos didáticos nos trazem esses ensinamentos através das parábolas e nos chegam aos questionamentos de regras morais do pensamento judaico.
    A própria essência de toda a ética, a escolha entre o bem e o mal, o certo e o errado são inerentes a cada um de nós.
    Mentir é contra os padrões morais e dentro de nossa cultura é considerado como um “pecado”. O nosso código ético especifica que a mentira deve ser combatida quando a criança adquire as primeiras noções evitando  que em adulto se torne prejudicial a si e à humanidade..
   Tais atitudes chegam à injúria, atingindo a dignidade e o decoro do outro.
   Há um sentimento que fere a personalidade: “Não julgue nada, nem ninguém, pela aparência.”
   "Sejamos senhores de nossa língua, para não sermos escravos de nossas palavras."

domingo, 3 de julho de 2011

O BARQUEIRO

   
   
   Durante uma inundação, um barqueiro estava ajudando um sábio a atravessar o rio. O tsadik  (homem santo) percebeu que o pobre homem era muito ignorante e quis ajudá-lo a seu modo.
      - Meu filho, você estuda os livros sagrados?
      -Sou barqueiro e lenhador, meus filhos têm  que comer, não tenho tempo de estudar, rabino.
       - Ai de ti - lamentou o rabino. -Um judeu que não estuda perde a quarta parte da sua vida.  Mas diga-me, pelo menos você recita os Salmos?
        - Rebe, não posso, tenho muita lenha para carregar.
        -Ai de ti. Um judeu que não recita os Salmos desperdiça uma quarta parte da sua vida. Mas suponho que fazes as tuas orações como se deve.
        -Rabino, faço o que posso, minha casinha inundou e o rio levou o meu manto e o meu livro de orações.
        -Ai de ti: assim você gastou outra quarta parte da sua vida.
        Nesse momento o bote bateu em uma pedra e começou a fazer água.
        -Rabino - disse o homem - o senhor sabe nadar?
        -Nãooooo! - gritou o rabino que já estava afundando.
        -Então, desperdiçaste os quatro quartos da sua vida. Mas, se o senhor segurar firme em mim,  talvez eu possa levá-lo até a margem com o quarto  de vida que me resta.
                                                                      


         Como humor judaico, este conto trata com irreverência a sabedoria rabínica e a simplicidade do homem comum na labuta do seu dia-a-dia.      
        "Não há possibilidade de discutir com os que pretendem possuir um conhecimento divino de uma missão divina. Estão possuídos pelo pecado  do orgulho, cederam à tentação externa."
         O "- Ai de ti." - mostra a soberba de nem ao menos tentar entender o outro em suas limitações e dificuldades.
         Usando dois personagens de culturas opostas, de uma forma cômica, aproxima nossos pensamentos de um contexto sociocultural fora dos nossos padrões, fazendo-nos questionar no até que ponto as obrigações religiosas quando se tornam obrigações religiosas, quando se tornam impossíveis de realizar, desviam-nos do caminho Divino. As boas ações diárias nos fazem, ou não, ter uma vida digna?
          Dentro dos preceitos da religião, não é só o saber dos Livros Sagrados que nos liga ao Divino,  mas as atitudes e ações que fazemos durante toda nossa vida.


JOGO DE DAMAS

         Num dos dias de Chanukah, o rabi Nahum, filho do rabino de Rizhin, entrou na Sinagoga e encontrou os seus alunos a jogar Damas, como era de costume naquele tempo. Quando viram o rabino, envergonharam-se e pararam de jogar, Mas, o rabi Nahum sorriu e pediu-lhes que prosseguissem. “Sabem que as regras do jogo de Damas são muito parecidas às regras da vida? Pois reparem: a primeira é que não se podem fazer duas jogadas ao mesmo tempo. A segunda diz que apenas se pode andar para frente, e nunca para trás. E por fim, quando se chega à última casa, alcança-se o dom de poder finalmente andar em qualquer direção.”
        A palavra Chanukah significa “dedicação” ou “inauguração”
    

     Neste conto temos, dentro da nossa cultura judaica, o significado amplo, revelando um mundo extremamente complexo possibilitando formas e possibilidades de modificar nossos pensamentos e decisões, buscando nas entrelinhas verdades que nos fazem conhecer melhor o meio em que vivemos e a realidade que produz resultados.
      Trazendo as palavras para um mundo significante sentimos que as regras da vida permitem que “inauguremos” novas interpretações entre o pensar e o fazer, e que a cada atitude, a resposta nos será revelada de acordo com os valores de cada um.
       É fundamental saber utilizar os instrumentos que penetram nesta dimensão, nos levando a discernir que é necessário caminharmos sempre para frente, observando o ensinamento que a Torá nos transmite e que nos diz respeito a encontrar sentido. E este sentido nos levará a sabedoria, a paz, percebendo o caminho que nos conduzirá a compreender o verdadeiro respeito à vida e para onde nossas atitudes nos conduzirão.
        As luzes da Chanukiah simbolizam, que a Torá com sua mensagem de bondade, justiça e devoção a D’us, sempre prevalecerão sobre a escuridão. A Torá nos ensina que:
        “A ALMA DO HOMEM É A LÂMPADA DE D’US”.


A RAPOSA E A VINHA


     O Rei Salomão, o mais sábio de todos os homens, lembra-nos de ser muito humildes, pois um homem vem a este mundo sem nada, e assim o deixará, sem riquezas.
      Nossos sábios nos contam a seguinte parábola, para que estas palavras de Salomão permaneçam frescas em nossa memória:
       Uma astuta raposa passava por um lindo vinhedo. Uma cerca alta e espessa cercava a vinha por todos os lados. Ao circular ao redor da cerca, a raposa encontrou um buraquinho, suficiente apenas para que ela passasse a cabeça por ele. A raposa podia ver as uvas suculentas que cresciam na vinha, e sua boca começou a salivar. Mas o buraco era muito pequeno para ela.
        O que fez a esperta raposa? Jejuou por três dias, até tornar-se tão magra que conseguiu passar pelo vão.
        No vinhedo, a raposa começou a comer à vontade. Ficou maior e mais gorda que antes. Até que quis sair da plantação. Ai dela! O buraco estava pequeno demais novamente. O que poderia fazer? Jejuou então três dias, até que conseguiu espremer-se pelo buraco e passar para fora outra vez.
         Voltando-se para olhar a vinha, a pobre raposa disse: “Vinha, ó vinha! Como pareces adorável, e como são deliciosas tuas frutas. Mas que bem me fizeste? Assim como a ti cheguei, assim eu te deixo...”
         E assim, dizem nossos sábios, também acontece com este mundo. É maravilhoso, mas da mesma forma que um homem chega neste mundo com as mãos vazias, assim os deixa. Apenas a Torá que estudou, as mitsvot que cumpriu e as boas ações que praticou são os verdadeiros frutos que poderá levar com ele.


       A vida constantemente nos põe à prova diante de situações de causa e efeito fazendo com que sintamos dificuldade em estabelecer uma relação entre o desejo e a limitação de nossa estrutura, a percepção entre o bem e o mal, o certo e o errado, tornando as decisões extremamente duvidosas e convidativas para cometermos erros, que trarão consequências no nosso julgamento futuro. A tentação é na maioria das vezes a expressão do desejo.
     Nesta metáfora, encontramos a raposa sucumbindo ao desejo da posse do ”outro”, não medindo conseqüência para alcançá-lo.
      É comum nos depararmos, na vida real, com situações similares, onde as fronteiras do possível que estão em nossa mente rompem-se não deixando que percebamos e reflitamos sobre nossos atos presentes.
      A “Ética dos Ancestrais”, com toda sua sabedoria nos diz:
     “Os que nascem estão destinados a morrer, a ser vivificados... Não penses que tua sepultura é teu refúgio, pois sem o teu consentimento foste formado, sem o teu consentimento foste feito viver, sem o teu consentimento foste feito morrer e sem teu consentimento te será exigido prestar contas.”