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domingo, 3 de julho de 2011

O BARQUEIRO

   
   
   Durante uma inundação, um barqueiro estava ajudando um sábio a atravessar o rio. O tsadik  (homem santo) percebeu que o pobre homem era muito ignorante e quis ajudá-lo a seu modo.
      - Meu filho, você estuda os livros sagrados?
      -Sou barqueiro e lenhador, meus filhos têm  que comer, não tenho tempo de estudar, rabino.
       - Ai de ti - lamentou o rabino. -Um judeu que não estuda perde a quarta parte da sua vida.  Mas diga-me, pelo menos você recita os Salmos?
        - Rebe, não posso, tenho muita lenha para carregar.
        -Ai de ti. Um judeu que não recita os Salmos desperdiça uma quarta parte da sua vida. Mas suponho que fazes as tuas orações como se deve.
        -Rabino, faço o que posso, minha casinha inundou e o rio levou o meu manto e o meu livro de orações.
        -Ai de ti: assim você gastou outra quarta parte da sua vida.
        Nesse momento o bote bateu em uma pedra e começou a fazer água.
        -Rabino - disse o homem - o senhor sabe nadar?
        -Nãooooo! - gritou o rabino que já estava afundando.
        -Então, desperdiçaste os quatro quartos da sua vida. Mas, se o senhor segurar firme em mim,  talvez eu possa levá-lo até a margem com o quarto  de vida que me resta.
                                                                      


         Como humor judaico, este conto trata com irreverência a sabedoria rabínica e a simplicidade do homem comum na labuta do seu dia-a-dia.      
        "Não há possibilidade de discutir com os que pretendem possuir um conhecimento divino de uma missão divina. Estão possuídos pelo pecado  do orgulho, cederam à tentação externa."
         O "- Ai de ti." - mostra a soberba de nem ao menos tentar entender o outro em suas limitações e dificuldades.
         Usando dois personagens de culturas opostas, de uma forma cômica, aproxima nossos pensamentos de um contexto sociocultural fora dos nossos padrões, fazendo-nos questionar no até que ponto as obrigações religiosas quando se tornam obrigações religiosas, quando se tornam impossíveis de realizar, desviam-nos do caminho Divino. As boas ações diárias nos fazem, ou não, ter uma vida digna?
          Dentro dos preceitos da religião, não é só o saber dos Livros Sagrados que nos liga ao Divino,  mas as atitudes e ações que fazemos durante toda nossa vida.


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